Costumava haver um slogan aqui, foi banido.

Ao sol para alvejar

24/08/15

O quintal mal merece este nome, mero retângulo no fundo de um prédio cercado de outros fundos de outros prédios e sem um centímetro quadrado de solo, sem terra nem minhoca. Ainda assim, se faz quintal graças a um arame esticado na diagonal, alteado no meio por tosco sarrafo enegrecido pelo tempo. No varal, roupas se estendem ao sol, sol forte de céu beleza, apesar de raras rajadas de vento úmido.

O domingo segue morno, quase silencioso e cheio de luz rumo à inexorável segunda-feira. O arremedo de quintal lembra outro, de mais de sessenta anos atrás, cheio de terra, minhoca, tatuzinho, caracol, mato, frutos, galinhas e muito mais. Abria-se, então, como extenso universo cujas reais dimensões muito me surpreenderam ao revê-lo após algum tempo e já adulto. Parecia-me, antes, muito maior.

Nele existia algo quase extinto nos dias atuais: um quarador. Para quem desconhece, descrevo aquele desaparecido antes da casa, sumida também: um grande estrado de ripas sobre um suporte feito por caibros fincados no chão e unidos por sarrafos transversais - tudo peroba, creio. Ali se estendia roupa branca para clarear ao sol, de acordo com sabedoria antiga isenta de teorias sobre propriedades da radiação ultravioleta.

Ilustração à guache para um jornalzinho mural, quando estava no "Admissão" do Colégio de São Bento.
Ilustração à guache para um jornalzinho mural, quando estava no "Admissão" do Colégio de São Bento.

Pequenos, gostávamos de engatinhar sob aquela armação, ou melhor, gostávamos, a seu tempo, de cada recanto daquele quintal a nos parecer enorme, de dimensões astronômicas em nossa imaginação. Da pitangueira encarapitada no muro à cerca treliçada, suporte do pé de vinagreira (caruru-azedo).

Agora, sobram-me à vista esses falsos quintais e, entre eles, ao menos este do varal tem um par de poodles, um macho branco e uma fêmea negra, a brincar e se aliviar ali e, esporadicamente, vociferarem em latidos contra algo na vizinhança. O sol é forte e talvez a roupa na corda possa se esturricar.

Mon, 24 Aug 2015 10:53:21 -0300

É isso aí, amigo
Pra quem já viveu com um quintal, nem
jardinzinho bem tratado no térreo do prédio resolve...
Bjs
Ana

Ah, saudades de meus quintais! Meus, não, dos quintais que usufruí.


Mon, 24 Aug 2015 10:12:31 -0700 (PDT)

nossa, Cau, Clode, meirmao, q delicia
claro q lembro do quarador, mas se vc nao falasse nem lembrava mais
alais, lembro-me dele em desuso ...
e nao lembro da vinagreira, lembro da trelica e do xuxu e do pe de cana, do outro lado da trelica
adorei a ilustracao tbm

muito boas essas viagens ao antigamente ...

bjs, Maren

Bem, diferentes e várias trepadeiras se apoiaram naquela treliça. Eu gostava muito de vinagreira, apesar do nome. Do mesmo modo, ao longo do tempo várias plantas vicejaram ali. Creio que com o passar do tempo o quarador deixou mesmo de ser usado, íamos rumo ao futuro... :-)
A ilustração desde o início está no sítio.


Mon, 24 Aug 2015 20:09:51 -0300

E o desenho?
Fala sério...
ADOREI! bj

Pensei que você conhecesse. Está no "sítio" desde o início...


Wed, 2 Sep 2015 18:50:53 -0300

... lindos... os falsos quintais...

      sem assinatura

Merci.

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