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A culinária de Apolinário25/04/02 |
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"do Aurélio" "apolinarismo" |
"... e sendo, como sou, cabra macho e pra lá de macho, esclareço por princípio e por fim que desde sempre e mesmo antes impus aqui severas restrições ao uso de certos legumes e determinadas raízes, posto que em minha cozinha..." Cuidado, dona Sabrina, que a palavra é armadilha mortal. Disse Apolinário da cozinha. A dele, sem dúvida, e a se referir não a espaço físico ou obra arquitetônica apropriada a agasalhar forno e fogão, não, mas à acepção mais sutil, que traz à baila a arte na preparação de finos pratos ou, ainda para evitar palavra como casca de banana, caríssima, a arte no preparo de alimentos requintados para deleite do paladar, e de quebra do olfato, visão, tato e até mesmo audição, sempre alerta aos rumores da mastigação. Apolinário falou das restrições e completou: "... por exemplo: cenoura, pepino, nabo, mandioca e assemelhados, em minha cozinha só entra ralado, delicada senhora, só se usa depois de lhes passar o ralo, que sou, cabra macho e pra lá de macho." Assim era Apolinário Moura, que muita gente só conhecia como tio Zu, o príncipe do refogado, apelido que ele mesmo se atribuiu em homenagem a famosa tia Zulmira, personagem imortal de Sérgio Porto, o Stanislaw, dos Ponte Preta. Nunca explicou a ninguém as origens do título de nobreza nem do apelido, mas gostava de imaginar a velha Ponte Preta no comando de uma poderosa frigideira de ferro a reger como exímia maestrina sal, alho, cebola, pimenta louro e outros secretíssimos ingredientes que jamais mencionou, nem mesmo em pensamento, para não violar segredos sagrados. Apolinário Moura, atarracado, de fala fácil gostava de cozinhar, mas fazia questão de deixar claro sua condição de macho, cabra macho e pra lá de macho indubitável, apesar do uso de avental, apesar do sobrenome acabar em a, apesar do apelido era cabra macho, pra lá de macho. |
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