Na praia escaldante ela parecia o Sol. Ao vê-la emergindo de alvas espumas, mais branca pela intensa reverberação de luz, Dorotel soube num repente tratar-se de um ser sobrenatural. Assim se explicariam todos os feitos e efeitos extraordinários desde a porta giratória, a mágica porta de mísero banco, agora distante - ou não? Ele não sabia onde estava. Ela, lá estava ela, linda - só podia ser uma sereia. Como não pensou antes! Uma sereia, claro! Dorotel cogitava a rédeas soltas, em pêlo, na verdade, sem qualquer rédea ou bridão. Puro galope de emoções a atropelar pensamentos a galopar. Sereia, sim e não cantara por sabê-lo ser deveras visual, pouco afeito às coisas da audição. Talvez o adivinhasse incapaz de sucumbir a um canto, mas vulnerável como frágil pétala à beleza. Saberia, por certo que o simples fato de vê-la o poria por terra, ao primeiro olhar. De fato, Dorotel, agora, olhava e pasmava. Quedava perplexo ante uma mulher deslumbrante. E tanto basta! Beleza não põe mesa, a beleza é efêmera, por fora bela viola - tudo da boca pra fora. Homem e mulher sucumbem à verdade implacável da beleza retumbante como ali Dorotel sucumbia da mulher - mulher? anjo? aparição? deusa? demônio - o que quer que fosse, que naquele dia trivial resolvera lhe assombrar ou abençoar. Negra cabeleira revolta lhe escorria a emoldurar e quase esconder olhos que ameaçam sorrir. Como todo bicho é hábil no uso de suas armas naturais, mulher traz consigo toda a sabedoria necessária para fazer deste atributo, dádiva da argúcia de algum deus, a arma mais temível para o homem. Dorotel seguiu reto, alheio à areia quente que lhe queimava os pés. Ela, como toda mulher, sorriu. Primeiro com os olhos, depois aquele sorriso o inundou e iluminou enquanto, totalmente derrotado - ou vencedor? - ele descobria profundezas de que nunca suspeitara. |
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