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Artífices04/06/07Ah, quem dera soubesse desenhar em palavras para, com traços rápidos, firmes, linha precisa, definir em caligrafia de que jamais fui capaz esboços inequívocos de algumas amigas e outro tanto de amigos, que me ocorram ao acaso... Deixar uma marca em tintas cem por cento naturais - como tudo, em certa perspectiva, pois por mais que lhe metam mão e bedelho, de que outra fonte pode algo emanar, se nenhuma outra além da Natureza haverá? - poder deixar laivos, dizia, marcas na superfície de pedra imponente ou não, sólida ou porosa, sempre impenetrável em seu mistério e que tempo maior ou menor acabará por fazer praia, areia mole, deserto volátil, pó. Delinear e assim assinalar o único tesouro que me iguala a reis e rainhas, piratas e papas e, como eles, o expor: mostrar em poucos riscos tais jóias preciosas, incomparáveis, resplandecentes, únicas, ainda que muitos desses amigos e amigas não possam sequer se imaginar neste meu devaneio... Não a fotografia de cada um, mas o rabisco, fruto de mão imprecisa, rebelde, criado, quiçá à revelia da razão e ao som da alma, se uma houver. E se o for o caso, até a caricatura. O pior é que não se trataria da imagem à bico-de-pena, mas imagens que dormem em palavras de bom poeta - só elas poderiam traçar tal resumo, tal retrato... Em vão busco em mim tal artífice, ainda que zambeta, nunca o encontrei... No frio da manhã que marcou novo recorde do lado de cá do fim do mundo, me pergunto se me falta a arte ou se me faltam amigos - não por eles, é óbvio, mas por mim: como poderia ter amigos um eremita? |
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