A croniquim de ontem ficou uma porcaria e ninguém mo disse. Horas depois, a li, por acaso, e quase não compreendi o que estava ali. Péssimo, confuso como o caminhar de um bêbedo e, repito, ninguém mo disse.
Em geral, não gosto de desculpas. A idéia de culpa implica tanta coisa, que me é difícil de aceitar. O tigre não tem culpa ao estraçalhar a zebra. O gato não tem culpa ao roubar o filé mignon. A mosca não tem culpa quando põe seus ovos sob a pele do cão e nós... nós somos tão animais!
O corolário disso, de um mundo sem culpa - igrejas cultivam e exploram o sentimento de culpa e ele lhes é vital na negociação do imponderável - o corolário, dizia, conseqüência inevitável de aceitar um mundo sem culpa é a inexistência de mérito. Simples: não há culpa; não há mérito.
Que fique, pois, a péssima croniquim do jeito que saiu, sem pé nem cabeça, como arrebentação, quando água e areia se misturam em fúria. Não houve uma só reclamação, uma voz pelo menos a dizer que eu preciso descansar, de férias, capinar um pouco, respirar outros ares, qualquer coisa, mas nada. Silêncio.
desenho de Maria Imbroisi KubruslyAssim como há em nós muito do animal, pronto para morrer e matar por território, por fêmeas e até, por comida, existe, no ser humano a possibilidade de um toque sublime, que poetas, romancistas e músicos sempre enalteceram e que envolve em magia e transcendência a mútua atração de dado homem por determinada mulher, e vice-versa.
Ontem, sobre o affaire Boeing, só queria assinalar, e falhei, que em certos casos a vida nos usa apenas como atores. Quando instrumentos de seus planos - da vida, da natureza - para um novo ser, somos impotentes. As grandes paixões cantam esse idílio, capaz de arrancar o ser de sua condição miserável. Meros códigos de companhias, por mais poderosas que sejam, perderão sempre, diante do apelo da vida a si mesma.
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