14-01-06  Crônica do dia

Atração

19/11/08

Se foi mesmo Anchieta, o padre, o primeiro a levantar albergues e capelas nestas plagas, como semente do ciclópico amontoado atual, o fez traído pela ocasião, pois talvez nada se fundasse fosse outra a data.

A ser verdade o vinte e cinco de janeiro, topou o padre fundador com o rio mal nascido no auge do verão com água fresca a riscar curvas voluptuosas sem pressa na planície de pouco declive.

Enlevado pelo cenário estival, o inaugurador não se deu conta da aflição imposta a este sítio quando a Terra volta à sua estrela o pólo norte. Então, esta fina tripa de continente, perdida entre os dois maiores oceanos, tem por céu o vazio imenso sideral, órbita afora e desaparece no eterno namoro das nuvens com os cumes.

Da mesma forma que no Rio, cravado de pedras preciosas de granito, é comum ver uma nuvem envolver o topo da corcova chamada Corcovado, como a resgatar a paisagem virgem, sem a afronta do monumento ou, na Pedra da Gávea, a cabeça de Batzild, usar com freqüência um chapéu de nuvens, a megalópole à beira do precipício da Serra do Mar, atrai e abraça toda água engendrada pelo bafo quente do sol sobre o mar. É raro ver Ilhabela, com seu cume mais isolado, livre de nuvem-carrapato.

Quando o padre viu sobre sua cabeça parte ponderável de toda água do mar, o ano devia andar em meio e não lhe restou senão repetir o rito de mais um batizado e dizer a terra, da garoa, ainda que em termos outros, em voga então.

A nós, herdeiros deste chão, resta conviver com a opulência de plantas, musgos, liquens e algas e testemunhar quão rápido transformam cadáveres vegetais em terra nova e boa e cheirosa, leito esplêndido para as novas gerações.

Longe do reino vegetal, desagrada tanta umidade no sopro do mar sobre nossas peles que, como diz o Pitangui, "nunca param de crescer"...

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