Enquanto sobreviver, a vida continuará esplendorosa e nova a cada amanhecer, pode acreditar. Nós é que, eventualmente, perdemos a capacidade de nos surpreender com o inédito, com a beleza da vida e da morte, indissociáveis. Hoje, um grande bando de sagüis se perseguiam, com seus longos rabos listrados em duas tonalidades de cinzento e seu pêlo escuro, eriçado na cabeça, com um pequeno tufo branco no meio da testa, corriam numa roda-viva, com suas vozes agudas a se chamarem - ou se xingariam, apesar da aparência de grande alegria emanada dos ágeis e leves corpos a pular, correr e se balançar nos ramos novos da velha aroeira, nas tenras folhas do abacateiro e, até, num tronco morto, imponente, onde conseguiam, mesmo ali, criar círculos de perseguição. Aos sons estridentes das vozes dos pequenos primatas se sobrepunham gritos estridentes e repetidos de bem-te-vis, vítimas costumeiras dos sagüis, exímios ladrões de ovos, inimigos terríveis de ninhos, assassinos de futuros bem-te-vis. Não dava para calcular o número de indivíduos no bando, haveria mais de vinte e algazarra chamava atenção de longe. Parece encontrarem, os sagüis, condições favoráveis para cumprir a ordem primeira do sucesso de uma espécie: 'crescei e multiplicai-vos' e, apesar deles, os bem-te-vis comparecem com gritos e cantos a cada manhã. Tudo isto encheu a manhã de segunda-feira. Estava a relatar tais peripécias quando, de repente, o céu escureceu e choveram folhas com um vento forte, conforme se contou ontem, depois de se religarem os fios que nos trazem luz e mais. Na terça-feira, ao caminhar pela avenida a ziguezaguear pelas cimeiras dos montes, assisti a um deles, um sagüi, correr com seu longo rabo teso rente ao chão para atravessar a avenida. Um carro pequeno freou forte para não o atropelar. Ah, vida volátil! |
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