[No fim, cada mania acha seu louco.]
Vai-se a velha do funil. A frase surgiu assim, inexplicável e definitiva. Nada ao alcance da memória a poderia justificar. Quem a dissera tão clara em mim? Por quê? Por vício antigo, todavia, continuei e dei à velha mais chão: e se foi com a chaleira de água fervente na outra mão a fumegar pelo bico. Então, parei intrigado com o absurdo da velha aparecer assim, do nada, dentro de mim. Deixei-me então levar pelo divagar. Por que seria ela do funil e cogitei, pois ainda vivo, se o utensílio estaria ali pela utilidade ou forma - afinal as superfícies cônicas são belas ao olho e à mente e berços de curvas famosas e charmosas, lugares geométricos dos pontos em um plano do círculo, elipse, parábola e hipérbole, a do geômetra ou dessas aqui implícitas. Por ter-se ido com seu funil não há da velha que falar aqui. Fique assim oblíqua a frase, em vez de não se falará mais da velha aqui, para assinalar o disparate de sua aparição. Que fique como os desafios à compreensão entrelaçados no poema do Hino Nacional, as tais margens plácidas, capazes de escutar o ribombar do clamor de um povo heroico. Foi-se a velha, mas ficou-me o enigma deste computador que se constrói a si desde o útero e segue até à morte sem parar de aprender. Ah, fascinantes mistérios que se supõem dormirem no cérebro humano. Por que me surgiria assim uma frase curta, precisa e absurda? Nítida e repentina, surgiu e imediatamente a decidi anotar, no ímpeto de compreender. Talvez pudessem estar por trás da frase extravagante os versos da canção de carnaval: 'chegou a turma do funil...' mas me soa pouco verossímil, apesar da época. Que vá em paz a velha e seu funil, quem quer que seja, gente ou assombração. Fico aqui, perplexo com os tais miolos que nos encimam. |
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