desenho de Mima

Dias nublados

04/02/11

Nublado claro e nublado escuro eram, juntamente com o célebre céu azul e sol beleza, referências costumeiras para calcular a exposição no tempo daqueles filmes fotográficos, hoje quase extintos, antes do surgimento dos primeiros fotômetros de selênio. Hoje, a varinha de condão da tecnologia transforma tudo em informação digital (falta fazer a mágica com o corpo humano para, em pessoa, seguir suas manifestações na incrível teia da largura do mundo, a World Wide Web).

Esvaem-se os filmes para diapositivos, chamados mesmo de slides ou para cópias em papel, em preto e branco ou em cores. Sumiram regulagens e cálculos complicados. Aboliram-se escolhas capazes de transformar, supunha-se, a mera fotografia em obra de arte e os computadores, cada vez mais embutidos em tudo, fizeram da velha máquina de retrato uma engenhoca minúscula, sabida e cheia de truques, capaz de se disfarçar, até, de telefone e com habilidades para calcular a exposição como um Adams, ou quase.

A fotografia, restrita nos primórdios a uma elite como o golfe ou charutos cubanos, tornou-se banal e se espalhou como vírus de gripe. É bem provável que se produza atualmente mais imagens num único dia do que em todo século dezenove. Talvez, em menos de 24 horas. Se a produção de diamantes experimentasse variação semelhante andaríamos por calçadas revestidas com a pedra preciosa, como na cantiga de roda. Muito se ganhou e muito se perdeu com tal mudança e será preciso uma visão de mais longe no tempo para correta avaliação.

Ia apenas falar dos dias nublados, claro ou escuro, como ontem por aqui entre os chuviscos, falar desses índices de luminosidade, úteis no cálculo da exposição, a indicar, agora, apenas um estado de alma, apontar meu ânimo e disposição mas, perdi-me pelo caminho em vãs divagações, como costume.

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