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Banalidades24/06/02Não sei se os "roteiros culturais" recomendam, entre os programas desta segunda-feira, festa ao pé de fogueira, à noite, que se não é a mais longa do ano, perde por poucos segundos, não mais e, apesar da neblina matutina, o dia logo ficou azul e cheio da sol, céu claro, com promessa de muitas estrelas, que seriam ofuscadas apenas pela lua cheia, às seis e 43. Noite de São João com previsão de frio! Na semana passada faltei com mais do que uma palavra a mais de um amigo - ou amiga, como se exige agora, para não privilegiar gênero e por mimetismo colonial - que assinalaram a falha no solstício. Deixei sem resposta provocações e bálsamos vindos por esse meio meio maluco e eletrônico como se fosse tudo muito fácil, banal. E se banal nos parece é porque deixamos de nos admirar com os feitos do homem. (Claro, os da mulher também!) Nossos feitos se complicaram demais. Complexos, são quase sempre obra de equipes, creditadas a - ou disputadas por - empresas. Desistimos de entender o que está por trás de cada pequena maravilha para as aceitar com a naturalidade de quem pega uvas, jabuticabas e outros frutos na prateleira do supermercado. Telefone celular, computador de bolso, o remédio miraculoso, a transmissão dos fatos nos antípodas no momento mesmo em que sucedem, pílula anticoncepcional, remédio para ereção e tantas outras coisas grandes e pequenas, das quais dependemos para comer, ir, respirar, saber e tudo mais. As coisas parecem tão naturais quanto o gesto de roçar o dedo no interruptor ao entrar em um cômodo escuro. Não existe mais o assombro do índio que, diante da oferta de um presente da cidade grande escolheu, para levar a sua tribo, uma torneira da qual saía água pura e fresca, sem poder compreender que ao levar torneira não levaria o reservatório, a estação de tratamento, as bombas, a rede de distribuição... |
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