O azul voltou, tímido, tênue, mas azul. Na gestação do inverno o outono se faz de uma ou outra estação, como se custasse a escolher entre calor e mosquitos ou o frio exterminador. Promete-se mais azul e mais frio para os próximos dias e elege-se a quinta-feira para madrugada mais fria. Mas a abóbada azul nos abençoa de sul a norte de oeste a leste. Duas folhas suspensas em fios de teia giram rápido à passagem de alguma brisa travessa como se a celebrar a paz que o azul nos traz. A luz vem rasa e branca com brilhos efêmeros a se desfazerem na evaporação das gotas sobre as folhas, antes, na sombra. A própria sombra dança sobre as folhas no rendado de outras folhagens. Os bichos, todavia, parece não terem voltado, salvo os insetos, é óbvio, onipresentes como Deus. Pincelam-se estrias de nuvens no azul - está tudo empapado e o sol, embora discreto, não deixa de evaporar. Pequena borboleta preta, amarela e vermelha pousa sobre minúsculas flores de uma trepadeira e agita um pouco as asas, devagar, em vê. Circulam no azul alguns urubus mas, hoje, predominam as borboletas. O sol e a brisa desvendam, de quando em quando, um fio frouxo de teia, projeto ou sobra de algum sonho de aranha. De repente, suspenso no nada, uma pequena teia, de menos de meio palmo de diâmetro, perfeitíssima e com fios tão finos que os deve ser impossível medir. No centro, imóvel, um pequeno ponto, sua arquiteta e habitante. Sobre a folha da íris um papa-mosca apalpa indícios com seus palpos. Abaixo, sobre uma grande folha caída, aveludada e amarelada, a mosca busca entre as rendas de sombras um raio de sol para se banhar. |
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