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Bênção17/01/05Descobriram buracos nas camadas de cima dos tênues vapores que envelopam e possibilitam a vida. Antes, talvez eles não existissem, ou deles nada se sabia. Por eles passa, dizem, um sol mais mortal. Por isso se lambuzam peles com novos sabores, em busca da cor com que o corpo se protege do excesso de radiação e tenta se abrigar de luzes capazes de descascar, assar, matar. O verão é mais curto no hemisfério sul e, quem sabe por isso, inclua papai Noel e carnaval, mas nesse Capricórnio, é também, temporada de águas. Chove. Chuvinha que não pára de chover. Juntem-se os dias longos e é quase possível ver o mato crescer. A paisagem muda da noite para o dia. Horizontes somem. A perspectiva se confina. O verde se avoluma e se debruça sobre tudo, se esparrama por beirais e sacadas e trepadeiras, cipós e lianas tecem e sobem com rapidez por todo suporte. Na seca, tudo isso desaparecerá. No auge do solstício de verão as formigas cortadeiras trabalham dia e noite, e são sempre capazes de proezas ainda mais surpreendentes que aquelas que já havíamos visto. Agora, muitas árvores já começam a dispensar folhas que, com a ajuda da grande umidade, logo se tornarão terra vegetal, perfumada e negra. No meio dos carros e caminhões entre prédios e casarões, a chuva a persistir por vários dias pode virar um estorvo. Mas diante da quantidade e variedade de flores, da volúpia do mato e da fúria das trepadeiras, relembro as imagens das invasões do Afeganistão e do Iraque, terras feitas de areia e pó.
Abençoada sejam as chuvas tropicais e os matos e matas que elas não param de parir! |
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