|
Bicharada21/03/02O juiz é a mais poderosa persona de nosso tumulto interior. Sim; não; sei lá, como posso saber caríssima Sabrina, dona Eustáquia, você e você, todos vocês personas ou personagens, homens e mulheres que se amalgamam em mim. Como é possível saber? Ao juiz, os veredictos. O juiz acorda primeiro e dorme por último. O juiz tudo julga e, pior, a todos. Pior ainda: julga a si. O juiz condena e absolve noite e dia! Está sempre aí, pior, aqui dentro, em mim, em toda parte. Onipresente, sem descanso e a dizer que é pior, melhor, maior, lindo, nem tanto, o máximo e, a cada vírgula, acresce a sua, como pequena sentença, na eterna digestão dos frutos célebres, que a serpente induziu a Mulher a convencer o Homem... ou que o Homem, por inveja do poder e da sabedoria divina... ou que a Mulher, para confrontar seu graça aos poderes... Como posso saber, dona Sabrina, como? Há juízes a dar com pau, para tudo, em toda esquina. Talvez reflexo, do que vai em nós, somatório dos juízes de nosso burburinho intestino. Por exemplo: alguém faz um gol, ou deixa de fazer, outro defende, manda para escanteio ou o árbitro - também chamado de juiz - dá pênalti. Seja o que for, milhões de "juízes" irão proferir sentenças certos de ter a verdade absoluta. Pior - apressou-se em classificar o juizinho aqui de dentro - pior, ele disse, são os barbados e remunerados, montes deles, que passam horas e mais horas frente a câmaras de televisão, na noite de domingo, para defender seus "veredictos definitivos" sobre os lances do futebol daquele dia. Disputas que podem assumir diferentes graus de cortesia. A paz poderia estar na ausência da voz que aprova ou desaprova, concorda ou discorda etc. Silêncio de paz sem que deixemos de ser humanos, porque também é essa voz que nos distingue do cão, do sabiá, da coral, do sapo e do bacalhau... |
|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior| |
|