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Dona Fulana19/03/02
Topei com a imagem maravilhosa e velha conhecida - a fotografia, dona Sabrina, que o autor deu para o Museu de Arte Moderna de Nova York, não a modelo, seja quem for pois, só restam o título da foto - Woman in Black Dress e o nome de Irving Penn, o da bela dama evaporou-se com seu perfume, mas dizia que a obra-prima provocou uma associação estapafúrdia. Ao olhar a garbosa senhora, na imagem quase íntima, para quem, anos a fio mostrou fotos famosas como exemplo, por necessidade de serviço e reparar na pose inusitada, tão distante do flagrante, do momento decisivo, ao contrário, com inequívocos sinais de construção cuidadosa, passível mesmo de certo desconforto físico, tolerável face à elegância da composição, pureza de linhas, equilíbrio de formas - ars longa, vita brevis! - ao olhar aquele buquê de gente, como contava, me veio a idéia esdrúxula, muito distante desse mundo de spotlights, passarelas e galerias. Olhem de novo a dama com mechas retocadas instantes antes do clique e a estola, ou que nome tenha aquele rabo, preparada dobra por dobra, de forma a dar equilíbrio visual a seu braço direito. Aí está: o braço direito! De luvas compridas, como as "Gilda", ou Rita, não importa... mas... a postura desafia a compreensão. O que segura essa mão? A óbvia taça de champanha? O cabo de uma rosa invisível? A ponta do véu de Maia, mãe da ilusão? Façam as apostas mas, antes, repararem ainda uma vez no sorriso e no olhar da dama saída das páginas da Vogue, de 1950. Veio desse contemplar mais demorado o palpite esquisito: a foto me pareceu atual e o que não se vê na mão da moça imaginei ser um microfone. Ela não passaria de uma dessas repórteres cheias de afetação, que se ocupam demais com a própria imagem. Pouco mais e a ouviria falar, com voz irritante, sobre coisas de política e, no final, dizer cheia de empáfia: "... de Brasília, dona Fulana". NOTA: Hoje, 6 de janeiro de 2009, achei o |
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