Quarta-feira singular o dia bivalente de ontem. Manhã tenebrosa de céus de chumbo e saturação de umidade. Testemunhei maus humores diversos, sem excluir-me da lista, pois ocorre-me apenas hibernar face ao tempo carrancudo. A mim parece não só humanos se tornarem jururus pela ausência da luz do sol e o excesso de umidade. A bicharada cala, os latidos somem e a cantoria tão conspícua dos pássaros nesta época de cortejar emudece no chove não molha de densas nuvens a ameaçar o dia com a noite.
O ar se move, todavia e, ontem, se apressou por aqui em rajadas buliçosas obrigando árvores imponentes a se reclinarem a sua passagem. Os ventos, que disseram motivados por um ciclone fora dos trópicos, varreram com eficácia o firmamento e a tarde chegou sob abençoada abóbada azul. Em pouco, foram-se as últimas nuvens e o sol se mostrou impiedoso sobre a pele nua. Saí por aí e, em gesto impensado, peguei uma blusa preta. Ela me encurtou o passeio pela temperatura a que chegou sob o sol.
O perfil da Paulista insinuou-se novamente no horizonte distante. Os sabiás, reis da voz destes tempos retomaram suas disputas - um canta forte e perto; outro, responde longe, quase inaudível. Talvez estejam apenas traçando fronteiras. Um jacu chegou sozinho, como tem sido nos últimos tempos. Eram quatro indivíduos sempre em bando. Que teria acontecido aos outros três? Alguns falam em pedreiros que os cobiçam para o jantar, mas a tristeza que vejo nele deve ser coisa da minha cabeça...
De repente, uma pomba grande, cinzenta, de um cinzento uniforme e neutro, dita por aqui pomba verdadeira, atacou o jacu e foi grande o alarido do bater de asas e grasnares e arrulhos. Durou um instante apenas, a pomba se foi e o jacu ficou.
O dia terminou esplêndido com um desfile de nuvens de ouro branco sobre azul.
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