Tão bonita!

19/10/11

Ontem foi dia de bodas no reino da saúva. Muitas imensas bocas se abriram no chão para trazer barro vermelho do fundo à superfície e, com ele, uma multidão de insetos a se esparramar em grande raio, com um polimorfismo onde um indivíduo pode ter mais de dez vezes o tamanho de outro. Afloravam também, é claro, os insetos alados e maiores ainda, as içás e seus consortes. Tudo isso num fervilhar da grama, do asfalto, do que houvesse ao redor. Era a festa delas, formigas, a nos obrigar a uma volta maior para não lhes pisar. Muitas já estavam esmagadas por pneus.

Ventava forte e, no céu azul que se abrira, oito urubus faziam evoluções em voo baixo. Pareceu-me se divertirem muito com o vento forte. Vi, mais de uma vez, pararem por alguns segundos no ar, como beija-flores, quando iam em direção contrária ao vento. Às vezes, passavam tão perto que parecia possível os alcançar se levantássemos o braço. Eu estava em uma cumeeira de onde despencava um resto de mata para o vale lá embaixo e as aves brincavam sobre essa mata, mais ou menos na altura de meus olhos.

A vida não desperdiça nenhuma oportunidade e se multiplica, seja como for, por toda parte. Com as primeiras chuvas da primavera o mato se assenhoreou de cada porção de chão. Sobre o piso de cimento, à sombra de frondes opulentas, o musgo brota e promete tapetes aveludados. Junto ao gancho da rede, centenas de aranhas microscópicas se deixavam cair por finos fios de ao se sentirem perturbadas. Pequenos insetos esvoaçavam entre sementes voadoras trazidas pelo vento. Tudo conspira para novas gerações, de tudo.

Silenciosamente a vida ensaia, se aprimora e deixa atrás o velho em troca de folhas tenras, quase transparentes, de filhotes contundentes de viço e frescor, de bebês irresistíveis e crianças ainda encantadoras, como fomos um dia.

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