Dizer a verdade
17/10/11
A correspondência recente me levou a rever antigas reproduções de "O Mentiroso, um jornal que diz a verdade". Com olhos de quase septuagenário, descobri ali incongruências cronológicas e outras. Ficava fascinado em fazer o jornal, em ir à Rua do Ouvidor comprar as matrizes, de papel, para ofsete e resmas de papel apergaminhado, em levar as matrizes prontas e o papel virgem à pequena gráfica da Faculdade de Arquitetura, ainda na Urca, onde, por uma gorjeta, o encarregado me rodava o 'concorrente do Avante' - jornalzinho da Academia de Letras do Colégio de São Bento, de onde eu fora expulso por índole capaz de perturbar a paz da instituição cujo slogan era: "As mais terríveis tempestades são incapazes de perturbar a paz das grandes profundezas". Nas matrizes, o suor dos dedos - o Rio é quente! - provocava a impressão de impressões digitais! Para a datilografia era preciso uma fita especial e para os desenhos, nanquim também especial. Todavia, durou pouco o jornal que dizia a verdade. O quarto número, foi na época do lançamento pela, então, União das Repúblicas Socialistas Soviética do Lunik II, em plena guerra fria. Políticos brasileiros começaram a discutir se deveriam, ou não, parabenizar os russos pelo feito. Ante tal cinismo diplomático, "O Mentiroso", fiel a seu lema, disse o que pensava: "Parabéns, URSS!":
Tanto bastou para que eu fosse chamado pelo reitor, Dom Lourenço de Almeida Prado, para proibir a circulação de "O Mentiroso" no Colégio de São Bento. Proibição que parece, hoje, profecia do período de chumbo que começaria cinco anos depois. No primeiro há uma data: setembro de 1958. No quatro e último, outra: 13/09/59 (ver acima). O Mentiroso circulou, portanto, neste período e não em 1957, como está em outro comentário. Ele era datilografado em uma maravilhosa máquina de escrever sueca chamada Olimpia e o velho colégio continua como o Clube do Bolinha: menina não entra. |
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