Hoje estou (ou você me botou?) em um mood saudosista. Esta me lembrou o início da década de 70, quando eu fazia pós-graduação em Psicologia Experimental, estudando saúva. Entre 1969 e 1971, quando chegava outubro a turma que trabalhava no laboratório de formigas (meu orientador, um outro professor que se encarregava dos registros em fotografia e filme, o técnico que cuidava dos formigueiros e os alunos) ficava em alerta para o dia da revoada. Quem identificasse primeiro a revoada avisava os outros e, fosse dia de semana ou feriado, despencávamos todos para a cidade universitária, equipados com botas (para evitar picadas das obreiras - nem sempre muito eficiente) e frascos destinados a guardar e identificar as içás capturadas, que iriam depois fundar formigueiros para o laboratório. No segundo ano, já mais experiente, costurei um avental com dois bolsos: um para os frascos vazios, outro para os já preenchidos e identificados, assim o trabalho andava rápido e rendia mais...
Em anexo, uma foto de uma colônia fundada com esse procedimento. Foi com esse tipo de colônia que colhi os dados sobre divisão de trabalho em colônias (artificiais) de saúva, que resultaram na minha tese de doutorado. O procedimento de colocar a içá em um pote de vidro cheio de terra, que ela escavava para criar a nova colônia, foi inventado pelo Mario Autuori (que na época era diretor do Zoológico, e criou lá uma colônia grande, com vários potes interconectados; tínhamos uma parecida no laboratório também, mas era muito difícil fazer observação nela, era movimento demais...). No começo meu orientador usava potes de palmito, azeitona, etc. Depois melhorou o procedimento, mandando fazer tubos de vidro em dimensões especificadas, encaixados em placas de acrílico (assim podiam ser abertos por baixo e trocados de placa sem afetar a esponja de fungo) e dispostos em bandejas de alumínio, com bordas lambuzadas de graxa para as obreiras não escaparem e inundarem os corredores do departamento (o que também aconteceia de vez em quando, era só bobear e deixar a graxa secar um pouco...).
Bj
Ana
anexo a carta 1602
Ai, Ana, que delícia de história! Obrigado por compartilhá-la comigo e com raros e eventuais visitantes do sítio do clode. Visitei o formigueiro do Autuori no Zoológico, com meus filhos pequenos. Difícil envelhecer sem reviver os pedaços de vida que deixamos para trás. De novo, obrigado.
cronistaprendiz
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