crônica do dia

Bombas

11/10/01

Manhãs mornas de outubro, manhãs brancas de muita umidade e densas de névoas, manhãs tropicais cheias de pios, de céus brancos cortados de cantos e asas. Manhãs de insetos que despertam para uma vida efêmera. Efêmera, senhor juiz?

Manhãs cheias de flores. Flores amarelas, flores rosas, de muitos rosas, mas não são rosas, apenas flores vagabundas que o mato também sabe colorir. Vagabundas, senhor juiz?

Manhã morna de outubro, de primavera, de abundância de novas folhas em tetos espessos, que toldam e fecham e mal deixam brecha. Manhã morna de muita umidade, sem sol para romper brechas e inundar de vida, calor, amor. Hiroxima, meu amor?

U. S. Air Force
"O sinistro cogumelo desabrocha sobre Nagasáqui"

Ah, corremos aos afazeres e os inventamos se não há! Fugir, gritar, batucar tambores no samba ou teclas idiotas no computador... com puta dor. - Idiotas?

A morte na esquina do mundo. Outubro outono de folhas mortas e homens mortos e mulheres mortas. Crianças também morrem e a morte cai de helicópteros musicais, trompetes infernais persistentes a refletir miragens do azul no amarelo, do pó que tinge e atinge céus na sede, na fome, na devastação em nome de deus. Quer mais, senhor juiz em mim?

E o olho de vidro do abutre espia longe, fecha o zoom. Sempre foi e ainda é: a colônia e o colonizador, o pretexto, o pacto de partilha do butim. Entradas e bandeiras aguçam apetites atiçam as fúrias! Vêm conclamar toda divindade infernal ao horror dos navios negreiros às montanhas de carne humana em açougues e nas camas! Negreiros navios guerreiros das sangrias de aviões das saudações do chapéus de vaqueiro texano a cavalgar Enolas Gays prenhes de Little Boys prestes a transformar Hiroximas em mil fornos de cremação no juízo infinito da justiça, afinal.

 

|home| |índice das crônicas| |mail| |anterior|

2452194.329