Talvez a bonança anteceda e não, suceda a tempestade. Anuncia-se tempo ruim para os próximos dias. Prevêem, também, temporais aqui e acolá, acompanhados de ventanias capazes de fazer algum estrago. Todavia, a sexta-feira começa ensolarada em aparente bonança precursora, onde tudo exala tranqüilidade.
Os adivinhos do clima têm errado ultimamente, mas não foram apenas condições atmosféricas que me lembraram o provérbio. Talvez também em nossas vidas a bonança anteceda e não, suceda as tempestades. Os estragos de cada intempérie protelam a possibilidade de tempo calmo, com vento fraco e mar tranqüilo. Mas deixemos aos filósofos tais cogitações e atenhamo-nos a esta manhã.
Primeiro, vários bem-te-vis tomaram a copa alta e carregada do abacateiro, com um vozerio de fazer inveja a qualquer tweeter. Aparentemente, disputavam algo - território, cônjuge ou refeição. Os abacates, no entanto, não lhes pareciam interessar. Ao mesmo tempo, surgiu de uma moita um gato. Miou e veio vindo em minha direção. O cão não estava por perto. Parou e me olhou, belo, em pleno sol. Ouvi os passos do cachorro e logo ele apareceu, deu a volta e veio confirmar o que via, com o faro. Demorou-se em minhas pernas. Uns três metros à frente, o gato, imóvel. Após as comprovações olfativas, o cão foi-se dali para beber água. O gato, então, sumiu na vegetação mais espessa.
Então, sem gritaria, um pequeno bando de maitacas chegou à copa cheia de abacates. Tampouco pareciam interessadas nos frutos, mas conversavam entre si com pios baixos, quase arrulhos. O cachorro voltou e lhe apontei o local onde o gato parara. Ele seguiu seu nariz e meteu-se na moita e o felino surgiu do outro lado, escalou de um salto a porteira, parou por um momento sobre o topo estreito da maçaranduba e me olhou. Senti-lhe o olhar como uma repreensão.
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