Caxangá

Caxangá. Certas palavras se perdem sem a outra, companheira costumeira. Solteiras, parecem perder o sentido, significado a que, bem casadas, sequer impunham à cogitação. Que diabos é caxangá? Quem se lembra de a buscar para mencionar o chapéu de marinheiro, seu gorro?

Pois, para o Houaiss, caxangá é também este gorro, além do siri-azul ou siri-corredor, crustáceo que a ciência batizou de Callinectes sapidus, também caxangá para o Aurélio, minucioso em sua definição: "espécie de crustáceo decápode, braquiúro, portunídeo, distribuído desde os E.U.A. até o Uruguai, e um dos mais comuns no RJ. A coloração varia do cinzento ao verde-azulado, com tinta avermelhada nos espinhos e dedos."

Todavia, alheio às razões da biologia, me parece mais divertida a idéia de chapéu de marinheiro, de pôr um caxangá no Popeye com seus enlatados no bolso - ah, que falta faz uma feira livre!

A palavra inusual se torna familiar, voz corrente, do povo e, portanto, dita de Deus, quando ao lado dos outros versos de Escravos de Jó. Neles, e ainda mais na roda com as batidas a marcar as sílabas, é óbvio, caxangá é caxangá.

O caxangá, no entanto, trás mais mistérios quando cantiga de roda. A revista Superinteressante, da Editora Abril, diz, no exemplar de junho 1999, que "Jó não tinha escravos e ninguém joga caxangá". Em Cantigas de roda, a Wikipedia em português dá até a partitura e três versões. O problema é quem ficará: 'Escravos de Jó, jogavam caxangá / Tira, bota, deixa...' e eis a dúvida: quem ficará? O Zé Pereira, o cão guerreiro, o próprio caxangá, o zambelê ou, como acreditei por toda infância, o Zebedeu? Todas as alternativas se encontram facilmente na internet.

Este siri não é mole e, se é brincadeira de poeta popular pondo rimas só por pôr... tira, bota, deixa o que rimar ficar.