Cega
14/05/03
Há tempos, um grande amigo e juiz disse crescer o número de juízas nos tribunais brasileiros e, pelo que via, as sentenças femininas eram mais rigorosas e inclementes do que as dos juízes. Foi papo agradabilíssimo, ilustrado com uma imagem inesquecível: uma promotora do interior de São Paulo chegou a colar penas nas folhas de um processo de autêntico ladrão de galinhas...
A justiça dos homens me deixa perplexo. Não que pretenda um tribunal divino, não, mas como impedir que desejo de vingança, preconceitos de todo tipo, interesses inconfessáveis, tudo isso interfira no que se avalia? O juiz é humano, sim mas, então, melhor seria não julgar e sem pretexto de que é para não ser julgado.
Ontem, em show importado na tevê, a entrevista trouxe famosa promotora norte-americana aposentada, que apresenta um programa de tevê sobre os julgamentos mais contundentes por lá.
Tudo, a entrevista, a vida dela, sua ação nos tribunais, tudo tinha como pivô o assassinato de seu noivo, ocorrido 15 anos antes. Ela abandonou os estudos por causa do crime, não se formou professora de literatura inglesa, perdeu 12 quilos etc. O assassino roubou a carteira da vítima com 35 dólares e uma foto dela, disse.
Via como uma missão de vida sua ação nos tribunais, de procurar condenar autores de crimes horrorosos. Defendeu com veemência a pena de morte e, mesmo quando perguntada especificamente, não deixava espaço a dúvida sobre a eventualidade da condenação de um inocente. Disse que em todos os casos em que atuou o assassinato do noivo estava vivo e presente dentro de si. Nunca encontrou outro homem para se casar e formar família - com o que sempre sonhei, declarou.
Um caso isolado, claro, mas que faz pensar: uma promotora, que via em cada réu um pedaço do assassino de seu noivo, levou à condenação mais de cem pessoas, sem perder um só caso, afirmou.
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