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Galinha-morta09/05/03Diante do açougue de periferia uma placa muito precária, em forma de cavalete, se abre no meio da calçada estreita a atravancar a passagem. Ali se destacam dois preços rabiscados com pincel atômico em folhas de papel, as ofertas daquela manhã: pé de frango por 79 centavos o quilo e, 99 centavos, por um quilo de pescoço de frango. Há não muito tempo, um presidente da república se declarava o máximo por ter feito o preço do frango cair até um real por quilo! Anunciava a oferta como se todos os pecados da república se pudessem lavar naquela carne barata. Pela bagatela de um realzinho, uma moeda apenas, se podia comprar mil gramas de impoluta ave refrigerada - sim, não era frango fresco, assassinado na hora, com sangue a escorrer pelo fio da faca até tigela adrede posta para o colher em um pouco de vinagre, o que outrora propiciou supimpas iguarias, das quais nem se ouve mais falar, não, era apenas frango resfriado, como se dizia, sem especificar se o animal morrera da gripe, ou não. Todavia, se podia comprar um quilo por um real, verdadeira galinha-morta, impossível negar. Não sei quanto tempo se passou até só se poder trocar a mesma moeda pelo quilo do pescoço. Nos jornais, na tevê, no rádio políticos e especialistas em economia perdem um tempo infinito para encher leitores e e espectadores e ouvintes de explicações - e enchem! Fala-se de economia, sem jamais mencionar qualquer fator ganância ou índice de avidez ou ambição ilimitada. Fala-se de coisas abstratas, como se fosse joguinho de computador. Não sei quanto tempo ainda será preciso para que a placa diante do açougue anuncie que, por 99 centavos, se pode comprar um quilo de bico de frango fresquinho, sem dizer se tratava de um frango homossexual, ou não. Afinal, desde menino escuto que dá para fazer sopa de pedra... |
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