01/12/99
O bom hábito de começar cartas com local e a data se estendeu, depois, para todo tipo de anotação, por vício e quase sempre, com data apenas, já que os locais eram, na maioria da vezes, anotações vagas, imprecisas para aludir a alguma circunstância momentânea, inútil algum tempo depois.
Hoje, primeiro dia do último mês, do último século teenager - pronto! não é preciso falar em milênio e se meter na disputa inglória sobre cômputo de um suposto ano zero, num calendário tantas vezes corrigido e remendado... - afinal, nesse dia primeiro de dezembro de 1999, o que se pretende, apenas, é retomar esses ensaios ou crônicas ou seja lá o que forem essas anotações que, com grandes hiatos, se publicam aqui há mais de dois anos.
E daí, por que não retoma e pronto? - pergunta alguém menos atento; ou menos adivinho, ou menos bruxo. Há exatos 98 dias está jogada aqui a última guimba, a última bituca - palavrinha que o velho Aurélio também esqueceu. Uma guimba imunda, nojenta, esquecida e achada no meio da terra, após um tempo desconhecido e tantas chuvas, ou nenhuma - como saber? -, e fumada com sofreguidão. Guimba que, agora, ao mencionar, quase cem dias depois, ainda traz vontade de tê-la por aí, para voltar a tragar sua fumaça envenenada...
Ninguém sabe do vício alheio! Cada um conhece a sua dor, sabe as manhas de seus calos... Sentar para alinhavar duas frases, registrar o que parecia tão claro, escrever qualquer coisa - eis o impossível, sem os condicionamentos físicos, mentais, psíquicos e sei lá que mais da nicotina, do cigarro, da fumaça, do aconchegante calor da brasa - ah! quanto mais lembro mais aumenta a vontade de poder contar com esse companheiro fiel até a morte... Vou resistir. Depois de amanhã serão cem dias!
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