Amanhece. Chuvisca mas, às seis e meia, uma luz alaranjada ou rosada tinge o que se vê pela janela. Fora, Vê-se que o céu, apesar das gotículas, mostra tonalidades muito sutis de rosa e azul, que só o olhar mais atento pode aproveitar.
Ontem, todavia, essa amaldiçoada companhia espanhola que explora o monopólio da telefonia por aqui bem, como e sobretudo, seus usuários compulsórios - malgrado enfáticas promessas dos antigos liquidantes do patrimônio alheio de preços menores devido à concorrência e coisa e tal - ontem, essa empresa, colonizadores do século XXI, desequilibrou-me e fez, de um golpe, compreender os males que o estresse provoca no metabolismo.
Dir-se-ia, numa síntese, ser o estresse o pólo oposto do que aquela luz rosada ou alaranjada, não sei, é capaz de provocar. O céu e suas cores de esfuminho de mãos angelicais também durou pouquíssimo e a vida do amanhecer de 18 graus clamou ao lado. Os pássaros, é claro, trocavam informações que eu não podia entender.
Passou o vigia em sua ronda obrigatória sem que se pudesse ver-lhe o rosto, pois vinha sob imenso guarda-chuva, como barraca de praia. Não poderia ver nada além de alguns passos à frente. Não cumprimentou o médico, que tirava o carro da garagem, nem me viu.
Um carro subiu a rua fazendo um barulho forte, na certa ainda em aquecimento, como os atletas. Ao passar por mim, pude ouvir distintamente, e ver, que a mulher gritava muito alto com o marido. Os dois brigavam. Foi apenas um instante, mas o drama pessoal transpareceu.
Com que facilidade aquele desequilíbrio, que mencionei em relação à companhia telefônica, se apossa de nós e nos leva a agir e falar por cima da razão! Além dos prejuízos físicos, que a liberação de hormônios de luta de vida ou morte provocam, fica essa cicatriz psicológica quando nos volta a razão.
O chuvisco virou chuva.
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