crônica do dia

Vai uma Coca-cola?

03/04/02

Na década de quarenta, no Rio, um dos primeiros cursos de preparação para o exame vestibular às faculdades de engenharia e arquitetura era lá em casa, rua Sorocaba, 674. Na época, só existia a Universidade Federal, na Urca.

Nasci e cresci ao som de aulas, da sineta - em forma de camponesa, que também servia à mesa -, a marcar horários, de palavras sonoras e incompreensíveis - molécula! - que, repetidas provocavam reações repetidas dos adultos. Restam poucas pinceladas.

O lanche dos professores, na sala de jantar; alguns nomes: Riguetto, Bahiana, Baihense, que nem sei como escrever. Bahiana, o professor de química, não subia para o lanche. Preferia apenas tomar uma Coca-cola. Um dia, mudou para guaraná e a partir daí muito se murmurou sobre algo misterioso na fórmula da Coca. As crianças são ligadas nessas sutilezas...

detalhe de anúncio da Pepsi, Twen, 12-04-70
detalhe de anúncio da Pepsi na revista Twen de 12 de abril de 1970.

Quase 60 anos depois, acho num artigo publicado há 20 anos pelos psiquiatras norte-americanos Craig Van Dyke e Robert Byck, na Scientific American de março de 82, que começava assim: "Alguns centésimos de grama de cloridrato de cocaína, finamente moídos e arrumados numa superfície lisa, em linhas ou carreiras de pó, podem ser aspirados através de um pedaço de papel enrolado, em poucos segundos. A inalação logo produz sensações de superioridade e uma impressão de clareza e poder do pensamento, que desaparecem, na maioria dos casos, em cerca de meia hora."

O artigo é enorme. Lá pelo meio, os autores contam: "A variedade truxillense, ou 'Trujillo,' dessas espécies é atualmente cultivada no litoral norte do Peru e nas planícies do rio Marañón, afluente do Amazonas, no nordeste do Peru. Suas folhas são colhidas para serem legalmente exportadas para a Stepan Chemical Company in Maywood, N.J., onde a cocaína é extraída para uso farmacêutico e o que resta das folhas é preparado como flavorizante para a Coca-Cola."

Vai uma Coca aí?

 

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