- Eu não sei mentir por isso, confesso: minto.
Se minto, sou mentiroso mas, se é verdade que minto, eu não menti que mentia, logo sou um mentiroso que não mente, que não mente que é mentiroso, isto é, eu não minto. Isso já é uma grande mentira porque eu já disse que minto.
Não no conceito de mentira ou verdade. Verdade e mentira tudo é convenção. A terceira dimensão que é uma realidade é a maior das mentiras, é ilusão.
Só sei que minto, não nego, afirmo.
Se afirmo tudo que disse, tudo que afirmo é mentira.
E agora que vocês já seguiram o meu raciocínio, todos sabem que minto mentira. Ora, mentira mentida é verdade, logo não é verdade que não minto.
Estamos no ano cheio de graça de 1958, no mês de setembro, sob o signo de Libra e você lê "O Mentiroso", um jornal que diz a verdade, acaba de ler o editorial escrito por Lulu que, salvo engano, era apelido de Luzia Peltier Badu.
Ou seria primeiro de abril do ano dois mil e já não seria piada O Mentiroso exclamar seu preço em milhões daqueles cruzeiros como "especial para você": marqueteiros tornaram a oferta banal!
Hoje, O Mentiroso poderia noticiar que ao morrer no século errado e no dia da ressurreição, a Rainha Mãe renascerá como fênix, semper Regina sempre Elisa e Bete e vitória de negros e troianos na luta inglória até o fim da corda de todos os relógios nas colinas de Ararat de onde ondas de animais povoarão os campos férteis das judiadas terras dos rios caudalosos varridos dos buchos do velho Texas sufocado sem compreender a nova beleza parida das entranhas e searas e Saaras e Saras e Samiras e Rebecas e Dalilas.
Hoje, primeiro segundo de abril, a folhinha assinala o dia da mentira, um mísero dia para mentir! Nos outros 364 dias, 365 nos bissextos, os homens dirão a verdade, nada além da verdade, até que a morte os separe...
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