Complicação
22/08/17
Chamava-se Simplício, mas era exímio em complicar as coisas e, conforme a formidável Mafalda, do Quino, é imensa nossa capacidade de tornar complexo qualquer fato simples e, quase sempre, insignificante. Aborte-se aqui o tema. Para o abordar seria preciso uma simplicidade inexistente. Ia falar do cabotinismo, aceito como coisa normal a proliferar qual musgo em tempos de muita chuva. Pretendia falar, também, dos velhos a insuflarem algum oxigênio em costumes moribundos, sobras de outra época e contraponto às modas atuais. Talvez o autoelogio e a gabolice, a proclamação exagerada das próprias qualidades e vantagens (independente de serem ou não verídicos tais atributos) advenham dos esforços da Psicologia para enaltecer o indivíduo, celebrar seu ego, ressaltar a importância da autoconfiança, em uma sociedade estruturada com base na competição e na busca de uma felicidade sempre projetada no futuro, uma idealização. Talvez tenha sido outra minha motivação inicial, não estou certo, mas isto não invalidaria as considerações anteriores. Por todo lado alguém se diz o melhor do universo, se apregoa cheio de vantagens e características ímpares entre todas as outras pessoas. O enaltecimento de um produto ou serviço oferecido ao público se tornou comum e até "louvável" por força da aceitação e uso da propaganda, levando-nos de volta à visão de René Descartes,nas primeiras palavras de seu Discurso do Método e substituindo, no texto original, "bom senso" pelos autoelogios, jactâncias e fanfarronices pertinentes a cada caso. Por exemplo: "A excelência é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dela, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-la mais do que a têm." Excelência, valentia, inteligência - tudo se encaixa! |
Fri, 25 Aug 2017 14:42:18 -0700 (PDT) sempre me lembrando a filosofia budista sem assinatura Assisti 10 minutos. |
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