O tempo, grandeza enigmática o tempo todo a provocar cientistas e poetas, desafia também quanto a contemporaneidade. Atiça-nos a imaginação ao limitar as possibilidades de interação a pessoas e fatos contemporâneos.

Gostaria a ilustre leitora de comprovar pessoalmente a grandeza de Alexandre, o Grande? Ficará para sempre restrita ao desejo: não são contemporâneos. E o destemido leitor, porventura cogitaria comprovar, em pessoa, os proverbiais encantos de Cleópatra? É igualmente impossível e pela mesma razão.

A mim muito agradaria trocar um aperto de mão com Ludwig ou Leonardo, por exemplo, bater um papo com o Galileu, o Isaac, o Albert e tantos outros ou de poder flanar pelas ruas da Paris de cem anos atrás ou, como queria muito uma secretária do Palácio dos Bandeirantes, circular pelos salões palacianos da Viena das valsas. A imaginação voa sem limites através da informação.

No entanto, estamos presos em nossa época. A fabulosa máquina do dr. Papanatas, ela também, confina-se aos férteis campos da fantasia. O jovem garboso e cheio de entusiamo só pode desposar as damas de seu tempo. A mais bela e poderosa princesa terá de escolher seu príncipe entre os contemporâneos, inexoravelmente. A época em que se vive determina fronteiras intransponíveis à realidade.

a máquina do tempo do dr. Papanatas

E vai mais longe o cativeiro do tempo: além da limitação corporal, da impossibilidade física de viajar no tempo, acabamos também circunscritos ao pensamento de nosso período, às ideias veiculadas, à visão imposta pelos meios de comunicação, às crenças dominantes. Somos agrilhoados pela contemporaneidade.

O tempo nos enclausura em uma gaiola e limita nossa ação a eventos e pessoas ao alcance de nossas existências. A capacidade de sonhar, devanear, fantasiar e criar mundos com palavras nos estende aos limites da imaginação.

Wed, 3 Apr 2019 12:41:29 -0300

Que saudades do querido Brucutu...

      sem assinatura

Dele e de todas as personagens dos quadrinhos do velho "O Globo".