Convescote
06/06/14
Aqui, do lado de cá do fim do mundo, a vegetação parece sorrir, lavada de muito pó por uma chuva delicada, que insiste já por mais de uma hora, em um dia escuro, mas com grande variação de luminosidade. Um pio singelo desde cedo se repete e aparenta uma entonação de tristeza - mas isto é inferência minha, é óbvio e ignoro o pássaro e seu humor. Enquanto isso, do outro lado do mundo, na Normandia, homens e mulheres poderosos, governantes, presidentes, reis ou rainhas e primeiros ministros de países muito ricos se reúnem, como num convescote, para celebrar memórias de guerras passadas, cercadas de desavenças e guerras presentes em muitos outros cantos de mundo cada vez menor. Nada justifica a guerra. Ser humano contra ser humano é absurdo. Pais que permitem a ida de seus filhos ao campo de batalha não percebem, com certeza, o quanto se opõe à razão um ser humano fantasiado de "militar", treinado para matar outros seres humanos com fantasias diferentes ou... morrer. O desembarque celebrado é poucos meses mais novo de que eu. Não trago memória, portanto, do fato comemorado. Com poucos meses, o bicho homem está longe de estar pronto e seu cérebro, sem dúvida, é a parte mais inacabada. Resta, todavia, lembrança difusa de antigas celebrações e enaltecimentos daquela chegada de guerreiros, fato apontado como início do fim da sangrenta disputa. Homens e mulheres que se reúnem lá, enquanto aqui a chuva rega o chão poeirento, são os mesmos capazes de iniciar uma nova grande guerra e que alimentam inúmeras guerras menores mundo afora. Quando virá o Homem incapaz de guerrear? Chove fraco por aqui. O pássaro calou e todos os outros também. Apenas o tamborilar dos pingos mais grossos, entre os rumores sutis da chuva fina, sobressaem no fundo sonoro. A luz oscila: ora clareia, ora escurece. |
Fri, 6 Jun 2014 11:58:08 -0300 Querido Amigo, Erro meu se, ao formular a pergunta, deixei transparecer uma esperança - era apenas um questionamento. Não me iludo quanto ao quão animal somos nem imagino mutações como solução. Para o nazi-facista também era absurda a guerra, ou deveria ser. O absurdo de homens matando homens não depende de circunstâncias ou argumentações, você não acha? Date: Fri, 6 Jun 2014 19:34:28 -0300 O bicho homem, decididamente, não é um animal exemplar.... sem assinatura :-) Sat, 7 Jun 2014 13:08:09 -0300 Em toda a história da humanidade, nunca houve um tempo em que houvesse paz. A paz não precisa ser defendida; o que a paz é a humanidade está ainda muito longe de conceber. Falta ainda um senso de magnitude para compreendermos o nosso tamanho no universo (aos que acompanham o desenvolvimento da astrofísica, posso falar do nosso tamanho no multiverso). A própria história, mera listagem das sucessivas guerras, existe porque os erros se repetem. Patriotismo? Puro ego nacional! É assim, meu amigo, planeta Terra... só tem terráqueos. Fazer o que? Beijocas ro Verdade. Pouco sei deste Universo e, por isto, não suponho outros. Quanto aos malefícios do patriotismo, basta observar. Sem dúvida, somos seres humanos, um tipo de bicho difícil de dar certo. |
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