Vênus brilhava esplendorosa nas primeiras luminosidades do amanhecer, em meio ao leve clarear junto ao horizonte a anunciar de que lado e onde o sol irá aparecer, aquele prenúncio de clarão que Rachel de Queiroz chamou lindamente de "franjas do dia" no seu, igualmente lindo "Memorial de Maria Moura". Ali, naquela insinuação de claridade reluzia e esbanjava luz nosso planeta vizinho, chegando, a parecer escandaloso, como disse Manuel Bandeira.

Cheguei a supor, ao vê-lo, as delícias de um dia ensolarado, tanta era a luz solar refletida pela "estrela da manhã", mas o céu clareou cheio de nuvens e véus e, conforme o dia se impunha, estreitavam-se as brechas azuis, por onde, eventualmente, o sol podia realçar, em contrastes de sombra e luz, uma paisagem parada, abandonada pelos ventos. Passou um bando de maritacas, mas não se demorou. Um pio solitário, que me parece voz de bem-te-vi, se repete ao longe. No mais, silêncio e imobilidade.

Agora, na direção do oeste se vê um pedaço maior de céu azul: promessa de uma tarde mais ensolarada? Inútil esperança de um clima incompatível com esse resto de outono - a Terra em sua órbita já se aproxima do solstício e expõe ao sol, ao máximo, o setentrião, resultando-nos, ao sul do equador a escassez máxima da radiação da vida, da luz do sol.

Por alguma brecha deste céu incerto, pincela o arvoredo uma luz titubeante. Vacila e já se apaga. Inúteis ilusões: mais um pouco e será inverno por aqui, noites longas e escuras da vastidão incomensurável em que boiamos. Noites de fogueiras e festejos, ao menos nos rincões mais remotos, onde as luzes urbanas apagam menos a vastidão de estrelas, inclusive aquela cantada pelo poeta, ora chamada "da manhã" ou "d'alva" , ora "da tarde" ou "vésper", o do brilho escandaloso do planeta com nome da deusa do Amor.

Date: Mon, 2 Jun 2014 12:52:41 -0300

Hj qdo eu acordei tava tudo escuro! Me deprimi!

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Se tivesse olhado para o leste, certamente iria se encantar com o brilho escandaloso de Vênus.