desenho de Mima

Da água para o vinho

25/08/15

Muito mudou o noticiário, seja nos jornais e revistas da banca, nas apresentações de rádios e tevês ou nas páginas da internet. Mudou, para repetir a expressão batida, da água para o vinho, mas aqui a repito por gostar do exemplo: dos antigos "repórter essos" diretos, sintéticos, objetivos e concentrados na informação, isto é, límpidos, cristalinos, isentos de adjetivos e opiniões, inodoros e insípidos como a água, chegamos à teatral apresentação dos dias atuais, turva, com pronunciado odor novelesco e nítido sabor de emoção barata capaz de, como o vinho, provocar fortes alterações da percepção e clareza, com sério comprometimento da razão.

O jornalista, hoje, busca antes de tudo emocionar. Quer, como o autor de novela de televisão, levar o público, se possível, às lágrimas e não poupa esforços para isto. Troca a descrição dos fatos pela entrevista emocionada da vítima ou parente, de preferência, regada à lágrimas. E para tornar, no noticiário televisivo, ainda mais patética a cena os "solertes" repórteres desempenham seus papéis a empunhar o fálico microfone quase como uma arma.

Não duvido de já existirem "diretores de notícia" a comandar o desempenho em cena. Sim, muitas vezes o repórter tem um script, caminha com desenvoltura pela cena, enquanto fornece dados para aguçar a curiosidade do espectador, até chegar "ao local do crime" onde, então, mostrará isso e aquilo ou, ao contrário avisa, não mostrará por ser a cena de sangue e terror. Sempre com a ameaça daquele meio metro de microfone encapuzado e com largo colar de logotipo.

Foi-se a noção de reportagem, a imparcialidade de informação. Não se considera mais a capacidade de discernimento do leitor, do espectador, da platéia, seja ela qual for. Estamos todos o tempo todo tentando convencer os outros de nossas convicções.

Tue, 25 Aug 2015 08:45:42 -0300

É isso mesmo Clode.Há muito deixei de ver televisão.Notícia só pela internet.Assim ninguém pauta minhas opiniões e emoções. bj

      sem assinatura

Quando era criança, o Repórter Esso tinha cinco minutos.
E pronto, um ótimo resumo dos fatos. Cada um que usasse sua cabeça.


Tue, 25 Aug 2015 08:45:44 -0300

isso sem falar no sorriso standard de todos anunciando o mau tempo ao assassinato de alguém, é cruel e patético.

      sem assinatura

Sim, esqueci-me do teatrinho da previsão do tempo...
Sim, patético. Cheguei a usar este adjetivo mas cortei. Agora, com sua lembrança, confirmo: patético.


Tue, 25 Aug 2015 15:04:18 -0700 (PDT)

tipo lavagem cerebral ...

      sem assinatura

Sim, conquistar a mente alheia dá poder. Exemplos: forças armadas, Coca-Cola, futebol etc.


Wed, 2 Sep 2015 18:46:47 -0300

Eu simplesmente adorei esta firula..



"E para tornar, no noticiário televisivo, ainda mais patética a cena os 'solertes' repórteres desempenham seus papéis a empunhar o fálico microfone quase como uma arma."

      sem assinatura

Sempre me perguntei a razão de ser daqueles phalus absurdos quando a tecnologia já fez ótimos microfones do tamanho de um grão de arroz...


Mon, 5 Oct 2015 21:12:41 -0300

Só li hoje, muitos dias depois, mais de 1 mês, de receber.
Sugiro tirar a palavra "todos" da primeira frase, pois não concorda com "noticiário", no singular.

Concordo com a crítica ao jornalismo. Discordo da generalização implícita na primeira frase do segundo parágrafo: "O jornalista..." Nem todos snao iguais. Ainda trabalho como jornalista e juro que não "busco antes de tudo emocionar".
Há alguns jornalistas bons.
Bjs

      sem assinatura

Você tem toda razão. Tirei o todos. De novo, concordo com você: toda generalização é estúpida, mas o aviso chegou tarde...

|home| |índice das crônicas| |mail|  |anterior|

2457259.96951.1313