Não é a minha opinião - diz o político cheio de convicção - mas, como amo a democracia, respeito a opinião da maioria. Na democracia é assim - continua - não importa quão qualificada seja uma opinião individual, a verdade está sempre com maioria. Eu, então, acompanho a maioria... Talvez não tenham sido estas as palavras exatas do político (até no dicionário político é, também, quem revela esperteza, astúcia!), mas eram bem próximas do que aqui se reproduz. Com certeza, tinha outros motivos para acompanhar a maioria. O aforismo, todavia, segue repetido a torto e a direito, a máxima é mais batida que roupas de bravas mulheres às margens de nossos rios e lagoas. Ora, diríeis, estaria mesmo a verdade sempre com a maioria? Por exemplo, quando Galileu constatou e apontou o absurdo de se supor o Sol a dar voltas ao redor da Terra, apenas por que a santamadrigreja punha aqui o umbigo da criação, a maioria, a imensa maioria acreditou no Papa e nos supôs centro do universo, malgrado o sussurro sorrateiro do sábio: e pur, si muove. E se movia mesmo, como até hoje gira, célere, ao redor da estrela mãe da vida, pelo menos por aqui.
Ou, quando Colombo sonhou terras a oeste de Espanha e a maioria o disse louco na certeza de se estender, o mar, até os confins de um mundo firmemente apoiado sobre o casco de uma tartaruga ou sobre quatro elefantes ou outra quimera análoga, de onde, talvez, despencasse em esplêndida cascata. Não seria difícil recobrar na memória vasto rol de retumbantes equívocos da celebrada maioria. Você mesma, leitora recente ou você, leitora primeira, deve estar, neste momento, a evocar um fato ou outro a desdizer a alardeada sabedoria da insigne maioria. Vox populi, vox dei? E a torcida do Flamengo ou a do Corinthians? Celebrariam da arquibancada o árbitro como voz de Deus? |
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