Da burrice
21/03/19
Descartes, em 1637, principiava seu Discurso do Método afirmando "O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm". Pergunto-me sobre outro aspecto inerente ao ser humano, porém muito mais difícil de avaliar, a inteligência. O que dizer de sua distribuição, pois cada indivíduo julgaria a dose que supõe possuir justamente com ela, inteligência avaliadora e avaliada? Alguém, detentor de menor quinhão, faria a avaliação com sua dose escassa e seria coerente com essa carência achar-se, até, superdotado. No polo oposto, um gênio teria consciência de seus dons acima da média, mas também perceberia a possibilidade de uma visão mais abrangente e de recursos mentais ampliados ou estendidos a áreas onde se acha deficitário e poderia almejar-se mais inteligente e, em consequência, se declarar mediano em uma avaliação. Pode-se supor, a partir daí, um idiota e um gênio a se atribuírem o mesmo valor e uma hipotética mensuração o que nos levaria, como na hipótese de Descartes, uma humanidade onde todo indivíduo se acha suficientemente provido de inteligência. A perspicácia da leitora ou do leitor, já intuiu voltearmos o tema para omitir nomear um indivíduo cuja inteligência, por excesso ou escassez, se escancara nos noticiários. Sabemos terem sido seguidamente desmascarados os testes que apontam um coeficiente de inteligência. Sabemos da dificuldade de definir inteligência mas, francamente, a burrice é incapaz de se ocultar. Proponho, então, à guisa de diversão, a pergunta: quem seria a figura pública, a eminência furta-cor, cuja percepção, cuja capacidade intelectiva, cujo cérebro provocou, indiretamente, todo este palavrório? |
Thu, 21 Mar 2019 13:18:26 -0300 O Mercado sem dúvida. sem assinatura Adorei sua resposta, melhor que aquela que eu tinha. |
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