Crônica do dia
Publicação esporádica, a perder-se como berro de vaca, que todavia muge, apesar da inutilidade declarada de seu berro.

 

 

Da gaveta

15/01/15

O nome do arquivo se explica em velha crônica. O gaveta.doc, de 1996, traz anotações, curtas sobre assuntos desconexos. Por exemplo: "Ouvi notícia de que se estuda criar vagões especiais só para mulheres nos trens, no metrô ou em ambos. Nelson Rodrigues contou ter assistido com os olhos rútilos a todos os ensaios de 'Vestido de Noiva', embevecido pela intuição e naturalidade com que cada candidata se entregava ao papel de prostituta, e mais, que outras atrizes gritavam em desespero por quererem fazer o papel. Ele, perplexo, percebia tratar-se de um dom atávico feminino. Já a necessidade de vagões especiais, por seu turno, seria conseqüência de um dom atávico masculino." A data é três de abril daquele ano, 96.

Outro, do dia 15 de agosto : "A praia está para ninguém botar defeito. O único é a distância. Aliás, se pensarmos bem, o defeito está sempre na distância. Quase tudo, quase sempre está perto ou longe demais. É raríssimo algo ao alcance da mão, da boca, do passo, do olhar - do que for. A matéria se impõe e é preciso levá-la, como se leva uma mala, um embrulho, uma pedra. Segue-se o cavalo, a bicicleta, a carruagem, o bigode do Ford e sua descendência, a maria-fumaça, o metrô, a jangada, a caravela, o Boeing, a prancha, os patins e as Havaianas. Mas, qualquer que seja o método, é sempre uma chateação estar cá quando se quer estar lá."

Do dia 11 de outubro: "Faltavam sete minutos para as cinco horas. Borrada por um véu de nuvens como batom em boca infantil, pouco mais de meio disco da Lua enchia a noite de luz de prata e sombras nítidas. Logo, o primeiro passarinho começou a cantar. Dez minutos depois, chegou a segunda voz e em seguida se ouviu o canto do galo. O céu mostrou o primeiro sinal do dia."

E assim seguia a gaveta até preencher o equivalente a 18 destes textos.

 

Thu, 15 Jan 2015 07:53:50 -0200

Bendita a Gaveta que nos uniu no amor pelas palavras.;-)
Beijo

      sem assinatura

Amém!
   (pode-se tirar o acento também)


Thu, 15 Jan 2015 09:45:05 -0200

"É sempre uma chateação estar cá quando se quer estar lá."
ADOREI!!!!
bj

      sem assinatura

Que bom!


Thu, 15 Jan 2015 11:43:44 -0200

Clode,

Tenho lido seus textos sempre. Gosto muito. Mande sempre.

Me chama atenção a questão do calor e da sensação térmica, que revela a percepção, considerando temperatura, humidade e ventos. Com certeza cada pessoa tem suas condições próprias - os encalorados, como meu filho Nando e os friorentos como minha nora Junia, que no verão dormem com ar condicionado ligado e ela se cobre com um edredon.

Estamos esquentando a cada ano. Me lembro do frio que senti no meu primeiro inverno paulistano em 1960. Talvez as temperaturas não fossem muito diferentes mas a sensação térmica era mais baixa em função da grande humidade do ar, com muita garoa e neblina. isso acabou, São Paulo hoje é uma cidade que sofre seca.

Nesses 55 anos os homens brincaram em serviço. Os desmatamentos foram crescentes e as fontes de emissão de calor se intensificaram com um modelo urbanístico automobilístico, a pouca preocupação com as áreas verdes, a geração de energia por fontes térmicas e.... o uso generalizado de ar condicionado.

Em entrevista à Globonews um climatologista do INPE afirmou que a seca na região sudeste tem relação com os desmatamentos na Amazônia. Portanto, não acredito na reversão deste quadro. Enquanto isso, se não chover o suficiente no sul de Minas, até março, o Cantareira pode secar.

Quando eu não tiver mais que ficar de olho no meu velho pai acho que vou passar esses meses de verão daqui em Portugal com a Maria, onde o inverno é ameno.

Proteja-se do calor, estamos envelhecendo e nos tornando vulneráveis!!!!!

beijo

Mané

Oi, Mané,

Também lembro de frios aí como já não existem mais.

Bem, nem trouxe o edredon para cá, mas continuo não gostando de ar refrigerado. Ligo, deixo o uarto esfriar, depois desligo para dormir. Cada um tem lá a regulagem de seu termostato, sem dúvida.

Otimismo seu os 55 anos. A humanidade brinca em serviço há muito mais tempo. Sem mudar o indivíduo, o ser humano a humanidade (a sociedade, as leis, os custumes etc.) não mudará.

Boa sorte com seu pai! Depois, vá passar nosso verão em Portugal, sim.

Por fim, já envelheci e tento me proteger. Obrigado.


Fri, 16 Jan 2015 12:14:15 -0200

adorei mesmo! gostei muito!

      sem assinatura

E eu, de saber que você gostou assim.


Wed, 21 Jan 2015 11:00:42 -0800

to confusa
essas datas sao desse ano?
a gaveta era de 1999, aki diz-se 1996

nao faz diferenca
adorei o q vc disse em relacao a espaco
vc sempre diz coisas maravilhosas em relacao a tempo
tempo, espaco ...
bjs

      sem assinatura

A crônica que explica o significado de 'gaveta de sapateiro' é de 99. O arquivo que encontrei, com este nome (gaveta.doc) é de 96.

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