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Gaveta de sapateiro

22/12/99

 

Não tenho o novo Aurélio e dele nem faço questão. Dicionários não são como fordes, dos quais se rapa os bigodes, passa alguma maquiagem e continua a vender com o nome do defunto, como se fosse obra do morto. Quando deram à obra o nome do dicionarista poderia haver enésimas intenções...

O pessoal pode não gostar de matemática nos pobres bancos - pensou que só banco de praça era duro, nos dois sentidos? - pobres bancos escolares, ia dizer, agora, o que o disse, podia não gostar de matemática, mas calcula obsolescência com uma maestria invejável... Aliás, o adjetivo só explica por uso e abuso, aliados a muita pretensão: invejar é coisa corriqueira, que se vê com mais ou menos espanto a toda hora, se se der um mínimo de atenção. É fácil ver a inveja em toda parte inclusive, e principalmente, a própria inveja...

Ora, muito já se falou de dicionários aqui e, do Aurélio em particular. Hoje, queria apenas explicar o título dessa crônica (ensaio, ensaio de crônica? - eu saio.) que descobri naquele léxico. Está lá, em gaveta, gaveta de sapateiro, com a explicação que, depois, parece óbvia: "desordem ou confusão de vários objetos".

Assim, surgiu uma gaveta de sapateiro neste computador, precisamente com aquela definição, e começou a crescer com pequenos trechos que eu julguei inícios possíveis pontos de partida para desenvolver... depois! Como este, por exemplo:

Sentar diante do poderoso programa, software que desafia e ameaça! Inibição, silêncio surdo-mudo. Espantalho das melhores intenções.

Impossível usar o rato: um minúsculo papa-moscas veio pelo fio e passeia, agora, em seu cocuruto. Pulou, afinal são aranhas da família dos salticídeos...

Até compreender que jamais seria desenvolvida qualquer daquelas pílulas, que elas eram pílulas apenas, às vezes inócuas, outras, poderosas...

 

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