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Dá-me um pouco de tabaco

27/08/99

 

Este texto poderia ser um laudo médico, registro de alterações num animal privado da fumaça de tabaco, que se impôs durante 38 anos. São 45 horas, pouco mais, de abstinência. Mesmo quem detesta números vê a disparidade - a eternidade dessas 45 horas é, no entanto, apenas 0.013% do tempo de vício e 0.009% da vida do bicho. Mas isso pouco importa. A cabeça se nega a trabalhar. Falha. Talvez esteja de porre por tanto oxigênio, talvez haja outras químicas em processos nas sinapses a espera de um descobridor...

O parágrafo acima me tomou 35 minutos! A cabeça não funciona. Fica ainda mais dispersiva. Parece uma viagem sem droga. O tempo muda também. Há uma única objetividade, uma única luta - comprar ou não comprar, eis a questão. Tudo mais é secundário. Não para mim, que já nem sei quem fala, para o cara lá dentro que repete a letra de uma música dos anos sessenta: "da-me um poco de tabaco, maninha!" Não sei se é assim, mas a canção era em espanhol ou castelhano...

Não sei até quando será possível resistir... É a terceira vez, nesses 38 anos e, em cada tentativa os sintomas se repetem com fidelidade. É possível que o cérebro já não possa mais funcionar sem algum combustível trazido pelas fumaças do tabaco... Fico parvo. Isso mesmo, parvo. Sai tudo errado. O dedos erram também. Tolo, abestalhado, abobado, abobalhado...

Bem, você já viu, incapaz de dizer qualquer coisa, se copiam e colam sinônimos de tolo, que o Aurélio cita com a ressalva "alguns deles pop. ou de gíria e alguns bras." e a lista segue: abobarrado, amalucado, aparvalhado, apatetado, apombocado, assonsado, atolado, atolambado, atoleimado, babaca, babão, babaquara, baboso, badó, bajoujo, basbaque, bobo, bobó, boboca, bocó, bolônio, calino, chapetão, débil, idiota, imbecil, leso, lorpa, maluco, mandu, paca, pacóvio, palerma, palúrdio, parvo, paspalhão, patego, pateta, patola, pongó, sambanga, saranga, sarango, scod34, sorongo, tabaca...

Tabaca, não! Tabaco! "Da-me um poco de tabaco, maninha!"

 

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