Dar tempo ao tempo
18/05/18
Levantou-se e caminhou até a janela. Escancarou-a como se seu gesto pudesse permitir à noite invadir o aposento com suas incontáveis estrelas, com os mistérios de uma imensidão acolá da imaginação. Elevou o olhar para o infinito e se deixou perder entre reminiscências cada vez mais distantes no tempo, essa grandeza tão controvertida nas visões da moderna Física até exclamar à revelia "coitado de meu pai", ao reviver uma cena distante, com o velho que já morrera há muitos anos. De novo o tempo e seus enigmas na psique humana. Questionou-se: seria pleonasmo? Correu ao dicionário e sossegou: a segunda acepção garantia "conjunto dos processos psíquicos do ser humano ou do animal tomado genericamente; psique, psicologia". Voltou à contemplação dos pontos luminosos do firmamento. Continuavam lá, não exatamente, é óbvio, o planeta avançara em seu perene girar. Algumas luzes surgiram no leste, outras sumiram no oeste. É sempre assim. Raramente prestamos atenção, mas não existe interrupção neste fluxo aparente do universo, sempre igual através da abóbada estrelada. Galileu apontou: "a Terra está a girar" — demasiado evidente! — e quase pagou com a vida por tirá-la do centro do humano egoísmo, umbigo divino da infância da humanidade. Hoje, posso acompanhar pelo computador — e os celulares são também computadores — o deslocamento do dia, a sombra da noite, vistos da Estação Espacial Internacional, em órbita 400 quilômetros acima de nossas cabeças, rápida o suficiente para circundar a Terra 16 vezes a cada dia... Galileu iria se deliciar! De novo o tempo a nos desafiar: o gênio italiano morreu em 1642 — muito? pouco? Que são 376 anos? Quantos milênios mais demandará o ser humano para chegar a uma sociedade sem desigualdades, sem disputas, sem campeões, sem preconceitos e antagonismos? |
Tue, 22 May 2018 09:49:04 -0300 Oi, Clôde Oi, Ana, |
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