Das eleições
23/04/18
A cada audição do quarto movimento da Nona Sinfonia de Beethoven, a "Coral", vem-me o ímpeto de proclamá-la a melhor música de todos os tempos... Logo em seguida, porém, percebo a imensa estupidez implícita em tal proclamação, o desserviço da maioria das classificações e hierarquizações, atitude, por sua própria natureza, segregante e criadora de antagonismos. Tal impulso deve derivar de quando um de nossos ancestrais atentou ao fato de ser essa pedra maior e mais pesada do que aquela ou esse graveto mais apropriado para riscar sinais no barro mole etc. Daí "evoluímos" até a festa do Oscar, a Copa do Mundo e a Olimpíada. No Primário distante, os alunos eram organizados em fila por altura, os mais baixos na frente. Quase sempre fui o último da fila. O apetite por classificar está em toda parte, entranhado na hereditariedade do cérebro humano. Seja sabão em pó, jogador de futebol, bailarina clássica ou baiana de escola de samba, para tudo estabelecemos uma escala, uma hierarquia. É uma atitude humana, demasiado humana. Em seguida, dizia, lembro-me da "Paixão Segundo São Mateus", de Bach, do "Adagio", de Albinoni, da "Toccata e Fuga em Ré Menor", de Bach, da "Bachiana Brasileira n° 5", de Villa-Lobos, do "Prelúdio e Fuga n° 1", de Bach, do "Barbeiro de Sevilha", de Rossini e da "Flauta Mágica", de Mozart, de "E lucevan le stelle", da Tosca, de Puccini e milhares de outras obras em uma verdadeira "Aquarela do Brasil", do Barroso, nas "Águas de Março", do Tom... Não! Cada coisa, cada pessoa é o que é segundo suas características e não deve ser avaliada com o metro de outra coisa ou pessoa. O fato de alguém ter uma limitação ou um outro, um talento especial, não deveria ser motivo para desdém nem exaltação. Dir-me-ão destruir, assim, qualquer possibilidade de escolha ou eleição... |
Mon, 23 Apr 2018 10:51:20 -0700 (PDT) adorei! tudo. sem assinatura Que bom! |
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