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De balde17/03/10Ontem, no final da tarde, veio uma menina pequena com um balde enorme de plástico translúcido na mão - chegava a levantar um pouco o ombro para o não arrastar no chão - catava folhas secas, folhas que por toda parte, agora, atapetam o chão. Vinha a menina entre o balde e sua mãe, que logo se apressou a explicar ser aquela catação dever de escola. Imaginei a professora - a maioria dos homens não sabe lidar com crianças pequenas, daí a mestra - a explicar este tema tão fascinante das mudanças derivadas de maior ou menor insolação, a pincelar naqueles cérebros quase virgens a tabela das quatro estações, as mesmas cantadas por Vivaldi, essas que aquecem a Terra ora aqui, ora acolá. O balde já estava bem cheio de folhas e o chão, forrado delas, de todos os tamanhos, de toda cor e formato. Nina, eis o nome da menina, escolhia uma e ia perguntar a um adulto se aquela era bonita ou não? confirmada a beleza da folha seca - algumas eram, de fato, belíssimas, brilhantes e coriáceas - a punha no balde. Há sessenta anos, ou quase, quando foi a minha vez de saber das estações, mostraram-me ilustrações coloridas, em papel brilhante, com árvores nuas e neve, para representar o inverno, árvores carregadas de frutos (maçãs?) a simbolizar o outono, paisagens floridas para a primavera e céu azul em uma praia, talvez, assinalando o verão. Eram estampas importadas, certamente, reflexos de algum lugar bem distante do Rio de Janeiro. O cenário cheio de neve dava a toda a explicação um caráter abstrato, divorciado de nossa experiência diária. Só muito mais tarde compreendi serem elas, as estações, fruto apenas da inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao plano de sua órbita - tão simples, tão bonito! Dependemos de nossa estrela, ela nos é crucial. O balde, agora, transbordava já. |
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