Fascinado, como todo guri, pelas locomotivas a vapor, tive um motivo a mais para tal deslumbramento: ganhamos de um tio, uma máquina a vapor artesanal, esculpida no torno, em sólido bloco de metal dourado. Dois êmbolos corriam nas entranhas do pesado paralelepípedo.
Brinquedo capaz de hipnotizar quando, do reservatório de água aquecido por espiriteira, o vapor a punha em marcha com o mesmo ritmo e aceleração das locomotivas que, então, ainda puxavam trem para Friburgo, aonde íamos em férias.
Aprendi ser moda fazer máquinas a vapor quando meu pai e seus irmãos eram crianças. Ouvi histórias de que fizeram, acionada por uma dessas máquinas, uma câmara de vácuo e ali colocaram, como cobaia, uma barata que, por fim, 'explodiu'.
Apesar de todas as maravilhas de conceito e precisão implícitas na máquina - ou deveria dizer no brinquedo? -, acho que o maior fascínio me vinha da alavanca do êmbolo, ligada ao grande volante - aquele braço que, na locomotiva, aciona as rodas do trem - um clássico do cinema.
À leitora que me olha desconfiada, explico logo o por quê de tudo isto: ainda outro dia, na primeira quadra do século passado, assistíamos à morte da máquina a vapor, depois da Revolução Industrial, a ela atribuída. Muito mudou, até mariposas mudaram de cor para se adaptar. E o consumo e exploração do carvão e, depois, do petróleo, necessários para produzir o indispensável vapor comprimido, começaram a mudar o delicado equilíbrio, na fina película que envolve a Terra e chamam de biosfera, onde a vida se fez milagre e aí nos deslumbra sempre e mais em sua maravilha renovada.
Começou lá, com a Revolução Industrial, explosão demográfica e avidez crescente mas, ao contrário do que se diz, o planeta não está ameaçado. A vida de muitas espécies, talvez. Todavia, muitas também sobreviverão. Entre elas, diz-se, as baratas.
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