foto de Mimacrônica do dia

Relevância

07/01/08

Há exatos dez anos, se supunha, aqui a história de uma moça que esperava, a cada manhã e cheia de ansiedade, o carteiro, pois sonhava receber, um dia, uma carta de amor. No entanto, dia após dia, o carteiro só lhe trazia contas, contas e mais contas ou propostas para mais gastar.

No fim, já sem esperanças, ela escreve, pega um envelope, o subscreve para seu endereço, põe seu próprio nome como destinatário e vai comprar os selos e despachar a carta em que escreveu "carta de amor"...

Hoje, me angustia imaginar o leitor ou leitora que, a cada dia, espera uma crônica saborosa, ainda que declarada esporádica e, dia após dia, só encontra spams e outras vozes em seu e-mail. Ainda que um único leitor ou leitora espere o eco do aprendiz que emudeceu, angustia.

Falar o quê? Tudo me parece irrelevante. Das maritacas que rodopiam em um círculo muito maior e só de tempos em tempos ressurgem com a voz estridente até, de repente escolherem o abacateiro, com frutos do tamanho de uma pêra, para tomarem de assalto a árvore e o império do som?

Ou falar do entardecer formidável do domingo, com um fim de tarde encantador, quando o céu se desanuviou e, azul, prometeu que se cumpririam as previsões de uma segunda-feira ensolarada e quente, do lado de cá do fim do mundo. Previsão contradita por nuvens que, céleres, que toldaram o sol, vindo do sul.

Contar do mundo cão, não daquele que o filme, de 1962, o Mondo Cane, de Paolo Cavara e Gualtiero Jacopetti celebrizou, mas historinhas desses cães que partilham nossas casas e as de nossos vizinhos e vivem lá a vida deles, com seus diálogos latidos, alheios às nossas cogitações e desígnios?

Enrolo, pois não queria deixar mais um dia mudo, sem a voz do aprendiz que não aprendeu. Há dez anos, eram outros os leitores, outro o cronista - ainda bem! - mas falar do quê? O que é relevante?

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