A primeira mensagem me desejou um ano bom e, logo, observava com sabedoria: 'uma bobagem, né? um ano q começa é como um dia q nasce. nada além' - assim, com a 'taquigrafia' da internet, que moldará o português vindouro. Sim, uma bobagem, uma convenção, um marco que justifica uma celebração. Ritos são humanos demais. Que outro bicho celebra datas, santos, deuses, heróis? Outra mensagem trouxe um presente: um cartão que, depois de pequena demora, surgiu na tela e logo, começou a tocar música e mostrar passarinhos voando junto a uma mudinha, que cresceu e veio vindo em direção à tela, conforme os passarinhos pousavam em seus ramos. Era um presente que se mostra, mas não se dá. Ficou lá, nos computadores ligados à internet, com esse cordão umbilical, que o liga à mensagem. Até quando vão durar? Ah, perversa idéia de 'propriedade intelectual'! Quanta cobiça! Quanta avidez! Pequena a visão que se enxerga como razão e centro do universo! E o grilo falante me sussurra: 'tu também, quanta volúpia de possuir! Para que queres o cartão? Para que se dissolva em pó no fundo de uma gaveta?' Borbulha o caldo de onde pode explodir uma nova maneira de ser e este caldeirão é a internet. Há vinte e dois anos, em um ônibus urbano no Recife, vi pela primeira vez três enormes dáblius brancos estampados no peito de uma camiseta preta de um crioulo,. Não tinha a menor idéia do que pudesse significar a sigla. Não me ocorreu, é óbvio, World Wide Web. A moça diz, no rádio: 'quem for às compras na uebi precisa tomar cuidado'. Fala-se da uebi com a intimidade de quem comenta hortaliças na feira. A uebi , a World Wide Web, se tornou íntima de todos, virou o grande supermercado do mundo, a feira de Caruaru universal, onde "de tudo que há no mundo / nela tem pra vender", como afirma, sobre a famosa feira pernambucana, a música de Onildo Almeida, que Luiz Gonzaga celebrizou. |
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