É apenas um palpite: ontem se decidiu que o verão vai passar as férias aqui. Será um verão com nossas cores, melodias e mazelas. Foi um dia solsticial. Desde o começo pois, madrugada afora, um bom naco de lua clareava os matos para o festival de grilos até a despedida do sol, que até depois das sete e pouco, em verdade seis e pouco por causa do horário de verão, ainda se fazia sentir, ainda ardia na pele. Além disso, a luminosidade é outra. Não tem, é verdade, a beleza nem a suavidade da luz oblíqua do outono mas, apesar de feia, por ser tão zenital, enche o mundo de alegria e parece contagiar todos os seres. Agora mesmo, neste último dia útil do ano (quase todos parecem preferir os inúteis!), uma cigarra canta a plenos pulmões (insetos não têm pulmões!) aqui, bem perto da janela. Tudo se regozija com brilhos, contraste e sombras profundas sob o sol. Depois, é a preguiça de Macunaíma. Todo o povo a rezar por ampla rede nordestina com varanda e demais alpendres - a melhor rede que conheci veio do Mato Grosso - esticada entre coqueiros cheios de frutos gelados e de canudinho. O ar, parado e morno - ruim como água de piscina morna. Vem de longe a péssima fama do morno. São João, no Apocalipse, põe na boca de uma tal Igreja de Laodicéia: "oxalá foras frio ou quente; mas porque és morno, e nem frio nem quente, começarei a te vomitar da minha boca ...."*. O ar morno, dizem alguns, fez o povo preguiçoso dos países tropicais... Passa, barulhento, um bando de maritacas. Devem estar indo às compras no supermercado onde não há rótulos e, a despeito desta lacuna, cada cliente acha o que lhe convém. Nem só no tsunami de informação reside a sabedoria... É verão! O sol, hoje vai cruzar os umbrais horizontais quando faltarem quatro minutos para as sete, pelo horário de verão, oito menos quatro. Aproveite! Carpe veranum! * do Apocalipse, de S. João, capítulo 3, versículos 15 a 17 |
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