A letra da canção veio pelo correio. Sem falar de autores ou intérprete. Tinha só o que contava, a essência filosofal. Em quatro linhas a história de Maria, de Sumaia ou Aglaia, de Bernadete ou qualquer mulher de fato, em quatro estrofes. De fato, esta canção começa há muito, em agosto de 1997, quando o aprendiz de cronistaprendiz publicava a quinta croniquinha desta série, "Lei de Deus", que provocou um comentário inesquecível que, por caminhos oblíquos, se amálgama intimamente aos versos acima. Para meio basta meia, malgrado aí se veja mulher e meia e, não fosse o preconceito do preconceito, diria: vê-se a fêmea original. Assim, a me repetir na mesmice da cegueira, ecôo mais uma vez Piaf e sua "La Foule", "A Multidão", a contar, no fundo, a mesma história que assombrou Jeová, da mulher que vê um homem lhe cair nos braços em meio a festejos populares e, joguetes da turba em alvoroço, se vêem, por um momento, "um só corpo" e assim seguem confusos, atordoados, bêbedos e felizes. Até que, de repente, a mesma multidão, para desespero da mulher, leva e engole aquele homem. Ela grita! Luta contra a multidão que os afasta, luta inútil pois sua voz se perde entre os risos alheios. Ela grita de cheia de raiva, de dor e chora, no meio de uma onda que se abraça e que dança uma louca contradança... Até, enfim, se afastar a maldizer a multidão que lhe roubou o homem que lhe dera e lhe roubará e que ela jamais reencontrará... Nos tempos que vivemos, de estímulo ao dedurismo e catequese contra o que o ricos chamam de pirataria - Billgato quer conversar com Lulalá por causa do Linux... - é reconfortante uma voz que pensa por conta própria. Reconfortante, e raro! De fato, Maria. |
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