Greta Garbo - autor desconhecidoNão sei quem é o autor desta imagem, apesar de ter lidado um pouco com a História da Fotografia, na enfoco. A modelo, sei quem é, uma das primeiras estrelas de primeira grandeza fabricadas por Hollywood: Greta Garbo e só o sei porque nomeei o arquivo com suas iniciais. Mas poderia ser qualquer outra...
A rigor, é a fotografia de um olhar. Olhar humano, penetrante, definitivo. Olhar com tantos significados quantos se lhe queiram emprestar. É claro, há muito mais, mas trata-se, fundamentalmente da imagem de um olhar. Há os lábios, mal definidos, entreabertos, que se misturam a fios intuídos de cabelos. Ou os próprios cabelos, quase tão importantes quanto a alma para a mulher, apenas sugeridos, em útil lição a tempos de atos crus e explícitos. Por certo obra de algum filtro difusor ou do uso démodé de vaselina. Na mão, indefinições alongam o comprimento de dedos. As dobras de tecido e suas curvas... Há muitos aspectos mas, olhe de novo: trata-se do retrato de um olhar.
Procurei outras imagens da atriz. Esta não é Garbo, é um olhar que a transcende. Ali se reflete a mulher, talvez o feminino. Claro que se pode falar qualquer coisa a respeito de qualquer imagem e contaminá-la com o discurso. Outro dia, revi Márcia Tiburi, na tevê, discorrer sobre a Tristeza, onde apresenta e explica uma gravura de Albrecht Dürer, "Melancolia". A partir de sua contemplação e interpretação, ela conta, Benjamim fez uma longa tese filosófica. A mim, a imagem não mostrava o que a bela filósofa afirmava. Todavia, seria fácil mudar a minha percepção, se quisesse, ver de outro modo.
É agradável e relaxante quando nos dizem o que ver porque quase nunca temos tempo de olhar. Olhar nossa mulher, nossos filhos, o passageiro a nosso lado, a velha árvore, uma nuvem passageira, o pôr-do-sol... mas, quase sempre, optamos por uma cegueira psicológica. E, todavia, basta olhar.
Esta imagem, é claro, me impressiona. Ela já apareceu sem motivo anteriormente.
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