Desconfio
05/02/02
De repente todo mundo quer ajudar a escolher os novos políticos e, sobretudo a perpetuar os velhos como tal. Cuidado, seja como o santo, desconfie de esmola generosa. O padre, o pastor, a estação de rádio, de televisão, todos vêm com a mesma lengalenga: jamais iriam influir em seu voto, que a escolha deve ser soberana, livre etc. só querem dar algumas informações com o intuito ajudar numa decisão tão importante e coisa e tal. Desconfie! Desconfio.
Por sinal, a regra se aplica a muitas coisas além de eleições. Desconfie! Desconfio. O que me recorda um jogo bobo e divertido, pré-histórico, de antes dos video games e do computador: o Desconfio.
Joga-se com um ou mais baralhos comuns para um número qualquer de jogadores, em roda, ao redor de uma mesa ou no chão. As cartas são todas distribuídas em partes iguais para os jogadores. As poucas que sobram ficam no centro. O primeiro jogador declara um naipe e descarta uma carta, sem mostrar, no monte do meio. Daí em diante, todos os outros terão que descartar cartas deste naipe, sempre fechadas e reafirmar, alto e bom som, o naipe.
Claro que, em dado momento, um jogador não terá cartas daquele naipe e começará... a mentir. Talvez já o tenha feito antes, por estratégia. Daí virá a graça do jogo, sua tensão: a qualquer momento, qualquer jogador poderá interceptar a carta descartada ao declarar "desconfio!" O jogo pára e a carta é aberta. Se for do naipe declarado, quem desconfiou fica com todo o monte acumulado, caso contrário o monte vai para a mão do mentiroso...
A medida que as eleições se aproximam os políticos jogam cada vez mais rápido suas cartas e nos berram cada vez mais alto o naipe que está em voga, como reza a regra do jogo: "vou combater a violência, vou combater a violência". Não vemos as cartas, mas sempre se pode dizer "desconfio!" Desconfio do político, do padre, do pastor, da rádio, da tevê...
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