[No fim, cada mania acha seu louco.]
O dia começou com cara de convite. Convite explícito ao ócio. Céu azul e sol beleza, ar paradão. A temperatura subindo rapidamente. Tudo que se prolonga numa rede, numa beira de praia, numa água de coco. Começou assim, como provocação, do lado de cá do fim do mundo, e às dez horas, mais ou menos. Já cruzava a marca de 24 graus o líquido vermelho do termômetro de 'dorreal', os cantados dois reais que, pelo vício antigo, as lojas estampam como um e 99 em suas fachadas. Durou pouco a instigação. Primeiro um vento, um ventinho qualquer, mas já trazia, como mensagem a confirmação das previsões. Um toque de frescor e uma umidade que se parecia poder cheirar. O velho bambuzal logo ecoou o aviso em hastes mortas, de pé entre outras, como instrumentos de percussão desafinados no entrechoque de seus gomos rachados. Em pouco tempo o céu, antes de impecável azul, se encheu de nuvens em todas as direções. As rajadas se repetiam, mansas, sempre vindo do sul. Ao meio-dia, mais ou menos, pelo horário de verão, quer dizer, onze horas e alguns minutos pelo relógio do sol, pareceu acabada a transformação e por algum tempo a grande sombra de densa nuvem englobou este rincão. Mas era dia com sina de transformação e não demorou muito para que os ventos varressem as nuvens até juntá-las todas pela roda do horizonte. O sol, de novo, inclemente, tostou o que se lhe apresentou e o céu sorriu conclamando ao fare niente. Virão as chuvas prometidas, a água que represas e plantas esperam de boca aberta? Cairá a temperatura, como se previu? A seca degrada e mata e dá bons romances e filmes; a abundância de água, também. Que ventos, que sortilégios regem as viradas de nossa alma, toldam ou iluminam nosso humor? Que promessas, que sonhos, que fantasias virão, ou não, a se cumprir? |
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