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Dias e dias09/03/05Do lado de cá do fim do mundo, o verão deu as caras para fazer jus a seus últimos dias e só agora, que restam onze dias do verão oficial. Quando a leitora de boca rubra e cabelos embaraçados estiver lendo isto, não serão mais que dez dias e alguma horas. No hemisfério norte, a neve começa a derreter, à medida que a Terra volta para o sol aquela parte. Paris estava a seis ou sete graus hoje pela manhã. Bem melhor do que há alguns dias, quando a temperatura chegou a ficar negativa. Eles aguardam a primavera com muito mais volúpia do que nós. Aprendi cedo, com uma professora de francês, que o alouette é o primeiro pássaro que volta, com a primavera. Quando aparece, ela dizia, é sinal de que se acabaram as neves. E eu nem sabia que raspa de congelador era amostra de neve. Depois, me ensinou a canção famosa. Famosa lá, para as crianças francesas... Muito mais tarde, aprendi que alouette é cotovia. Mas isso de pouco me serviu. Até hoje não conheço cotovia. Pelos próximos 363 dias não se precisa mais cantar e paparicar e louvar e enaltecer e bajular a mulher, salvo, é claro, se for uma única, específica e determinada mulher, dita amada, amante, namorada, esposa ou seja lá o nome que se lhe queira dar, mas não a mulher impessoal, como ontem se fez. Desconfio dos dias disso e daquilo. Muita gente estimula e aproveita dias de mãe, de criança, de pai, de avó, de avô, de namorado, namorada etc. Ouvi que se propõe o dia do cão. Não é piada, depois, virá o do gato e assim sucessivamente, como dizia o professor ao ensinar dízimas periódicas! Homenageia-se Luluzinha num dia e no outro, o Lulu. A mulher é flor preciosa e delicada, mas planta resistente a qualquer intempérie, sempre capaz de renascer à primeira chuva, ao primeiro raio de sol. Ela é sempre menina, sempre de ouro e merece afagos e beijos, não tapas e socos. |
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