[No fim, cada mania acha seu louco.]
Um motor, ao longe, grunhia como um trem infinito incapaz de acabar. Pássaros de vários tamanhos se agitavam entre os ramos e cortavam o ar quase frio em vôos rápidos. Pareciam conversar com sons variados enquanto, ao fundo, um grilo solitário sublinhava os sons da manhã. Manhã de luz dura, definida, de um sol de quase solstício. De fato, faltam menos de duas semanas para a Terra passar pelo ponto da órbita onde a insolação é máxima no hemisfério sul e, ao norte do equador, se tem a noite a mais longa. O domingo se fez ensolarado e de céu azul, mas um azul lavado por restos de névoa ou poluição, mas logo o calor impôs sua quietude, o sossego da fuga à inclemência da radiação. Horas depois, o dia caminha para sua morte. Uma luz tênue amarela o verdor viçoso de incontáveis folhas nos topos das árvores. Contra o azul pálido, mais de meio disco da lua brilha e promete delícias e mistérios enluarados. Não morresse o domingo reclamaríamos a noite que, por sua vez, acabará no raiar da segunda-feira. O equilíbrio de todos os ciclos, de cada rota de cada estrela provoca o deslumbramento ante o que se intui sem compreender. No rastro do dia retumbam muitos fogos de estampido a comemorar resultados do futebol. Buzinas e outros barulhos contaminam a paz do anoitecer. Os cães se assustam. Os pássaros somem. Logo, será tempo de outras celebrações. Outros pretextos e outros festejos preencherão o vazio. Mais explosões, mais perto. Incomodam também às pessoas, além dos cães. Suaves tonalidades de rosas e azuis brincam no horizonte do pôr-do-sol em sutis variações. A luz alaranjada se derrama sobre a paisagem a recortar perfis e separar planos. O disco da estrela da terra mergulha atrás de um monte com brilho forte, incômodo de encarar. A terra devora um sol imenso. Em pouco, a última lasca se vai. Domingo foi, na origem, o dia do sol - Sunday, em inglês, Sonntag, em alemão ou, em latim, dies solis 'dia do sol'... |
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